São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Coletânea resgata Elvis Presley terminal

DA REPORTAGEM LOCAL

Caixa: Walk a Mile In My Shoes -The Essential 70's Masters
Artista: Elvis Presley
Lançamento: BMG-Ariola
Quanto: R$ 100 (a caixa com 5 CDs, em média)

A imagem de Elvis Presley nos anos 70 que todo mundo tem em mente é a do cantor gordo, decadente. Um ídolo anacrônico, representado à perfeição por aquela costeleta cafona.
É essa a fase abordada por "Walk a Mile In My Shoes -The Essential 70's Masters", pacote de cinco CDs que cobre os seis últimos anos do cantor e completa a coleção de três caixas que abarcam sua carreira.
Elvis morreu em agosto de 77. Sua última música a alcançar o primeiro lugar das paradas americanas foi "Suspicious Mind" (Mark James), em 1969.
Os anos 70 representam para Elvis, além da decadência artística e perda de popularidade, uma deterioração de sua vida pessoal e saúde física.
A separação de sua mulher, Priscilla, em fevereiro de 72, ajudou a queda de Elvis, que nunca tinha sido um primor de equilíbrio emocional.
O cantor passou os últimos anos de vida afogado em cheeseburgueres duplos e em coquetéis de barbitúricos, anfetaminas e tranquilizantes, perdido em algum lugar entre o Havaí e Las Vegas, onde costumava dar shows.
O mito de primeiro astro do rock'n'roll era uma sombra do passado, ofuscado pela imagem da fase terminal -em cima de um palco, inchado, apertado em uma roupa cafona, com o rosto empapado de suor.
Mas, além dos clichês imagéticos, ainda há boa música. Embora seja necessário peneirar. Elvis foi prolífero, gravou quase 20 álbuns nos últimos seis anos de vida.
Mas seu repertório não era muito criterioso, no mínimo -é difícil imaginar um cantor de rock gravando discos de Natal, como ele fez, por exemplo.
Sete músicas inéditas de Elvis Presley são o principal chamariz de "Walk a Mile In My Shoes" -entre elas uma ótima "Lady Madonna", dos Beatles.
Mas existem outros atrativos para garantir compradores.
Há versões inéditas de um punhado de canções, como "My Way", "Amazing Grace", "Something" e "Heartbreak Hotel".
A caixa também contém um libreto com 92 páginas coloridas com fotografias raras, discografia da época.
Como brinde, o pacote traz selos com as capas dos discos de Elvis na década de 70.
Ao todo são 120 músicas, reunindo material de estúdio e ao vivo -o quinto e último CD, batizado de "The Elvis Presley Show".
É nesse disco, recheado de registros ao vivo, muitos inéditos, que aparece o melhor Elvis dessa fase, inclusive porque o repertório é melhor.
Ele canta "Proud Mary" -do Creedence Clearwater Revival-, "You've Lost That Lovin' Feeling", "Suspicious Mind", "Unchained Melody", uma ótima "I'm So Lonesome I Could Cry", e meia dúzia de outras músicas excelentes.
Além do material ao vivo, dois CDs reúnem o que saiu em compactos -"The Singles"- e os restantes são "Studio Highlights 1970-71" e "Studio Highlights 1971-76".
Embora a primeira caixa -os anos 50- seja melhor, em "Walk A Mile In My Shoes" Elvis mostra que é o Sinatra do rock. Sua voz sobreviveu à decadência. Comove e emociona. Não se pode pedir mais nada de um artista.

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