São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Ná Ozzetti faz álbum em homenagem a Rita Lee

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Em plena época de tributos e homenagens musicais, Ná Ozzetti se destaca pelo inusitado: a cantora rende-se à roqueira Rita Lee, que poucos nomes da MPB ousariam alçar ao pódio dos compositores merecedores de homenagem aprofundada.
A cantora e compositora, ex-integrante do grupo de vanguarda Rumo e vencedora do prêmio APCA de melhor disco de pop-rock de 1994 por "Ná, seu segundo álbum solo, lança em janeiro "Love Lee Rita, coleção de doze canções recolhidas do repertório da ex-Mutante.
O título do projeto brinca com "Lovely Rita", canção dos Beatles -influência marcante na carreira de Rita Lee- do mítico disco "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band" (1967).
A idéia do disco partiu do compositor Costa Neto, diretor da gravadora Dabliú, que pilota o projeto. Surgiu quando ele se preparava para relançar três discos do ex-Mutante e ex-marido de Rita Arnaldo Baptista (que afinal serão lançados em 1996 pela multinacional Virgin).
"Os Mutantes representaram uma ruptura com determinada linha da MPB e o estabelecimento de um laço com a contemporaneidade", diz Costa Neto. "A Ná, que com o grupo Rumo representou algo parecido, me pareceu a pessoa ideal para a homenagem".
Ná Ozzetti mostrou-se imediatamente receptiva à idéia, adiando até a preparação de um novo disco autoral. "Depois de começar a trabalhar no projeto, percebi que na minha vivência a trajetória da Rita é a com que tenho maior intimidade, a que mais acompanhei, afirma Ná. "Aí é que percebi que este é o trabalho de um outro artista que eu mais gostaria de ter feito."
A intimidade, segundo ela, vem de longe. "Sou super-fã da Rita desde criança, fui nos primeiros shows dela", conta.
O prazer da identificação se une ao desafio: "Ela é sem dúvida uma das maiores artistas da história do Brasil, e é um grande desafio cantar Rita Lee. É como Beatles, é difícil ver uma gravação que supere as originais".
A solução para os perigos do desafio Ná diz ter encontrado na busca de um equilíbrio entre as singularidades de Rita e suas próprias. "Procurei me manter no espírito do trabalho dela, para não tirar sua força".
A familiaridade com a música de Rita facilitou o processo de construção do disco: "Se levei duas tardes para selecionar o repertório, foi muito. As músicas já estavam todas na minha cabeça, vieram muito rápido".
As faixas lembradas por instinto -a começar por "Atlântida"- foram as que acabaram gravadas, sem muitas pesquisas posteriores. "Depois comecei a lembrar de outras, mas aí já estava gravando e preferi não mudar nada."
O trabalho foi instintivo do começo ao fim, mesmo em canções menos conhecidas, como "Vida de Cachorro", dos Mutantes. "Era uma recordação de infância, que eu não ouvia há muito tempo. Quando recebi a letra por fax, para conferir se não havia erros, vi que tinha lembrado direitinho, mesmo sem reouvir."
A intuição comparece não só na escolha do repertório. "O trabalho foi feito muito com o coração, desde as idéias musicais até os arranjos, do meu irmão Dante Ozzetti, e interpretações. Procurei nunca ser pretensiosa, diz Ná.
A despretensão veio acompanhada de humildade. Ná fez questão de submeter a idéia do disco à aprovação de Rita Lee. A musa, que costuma elogiar Ná (já foi em shows e escreveu texto elogioso em jornal) foi, é claro, receptiva.

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