São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Anemia global

A queda dos juros nos EUA, depois de uma série de cortes análogos na Alemanha, França, Reino Unido e outros países europeus, assim como, semanas antes, pelo Japão, completa um ciclo em 95. Esse ciclo poderia ser definido como um esforço para relançar o sistema global numa rota de crescimento.
A importância desses esforços e, principalmente, o fato de serem praticamente simultâneos e coordenados, não podem ser subestimados. Aos poucos forma-se um consenso prático, especialmente nos centros desenvolvidos, de que os graves desequilíbrios fiscais e financeiros das principais economias serão enfrentados apenas na medida em que se descortine um horizonte de desenvolvimento.
Do desemprego tecnológico à falência dos sistemas previdenciários, passando pelas dificuldades associadas à transição no Leste Europeu ou pelas agruras das economias latino-americanas, sem contar as recidivas protecionistas que ainda tentam muitos governos, há uma lista de problemas cujo enfrentamento, num ambiente de crescimento baixo, torna-se quase impossível.
Ao mesmo tempo, os riscos de uma pressão inflacionária global são hoje mínimos. Em primeiro lugar, o mesmo avanço tecnológico que cria desemprego traz ganhos extraordinários de produtividade, com reduções estruturais de custos.
Outro fator que ajuda a entender porque há pouco risco de inflação é a própria crise que se desenhou com a transição no Leste Europeu. Especialmente no caso da Rússia, a carência absoluta de divisas redundou num aumento de oferta de matérias-primas que pressiona os mercados mundiais. O risco parece ser de deflação mais que de inflação.
Finalmente, o crescimento baixo e cada vez menor dos países centrais, com desemprego crescente, por si só já define um ambiente sem riscos de repique inflacionário. A OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) acaba de divulgar nova revisão para baixo de suas estimativas de crescimento econômico, salientando que os 25 países mais industrializados do mundo crescerão apenas 2,4% em 1995.
A redução dos juros está longe de ser uma condição suficiente para reverter esse quadro. Mas já é um começo, com efeitos provavelmente positivos sobre as economias abaixo da linha do Equador.

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