São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Pastas multicolores

Agora elas já são de todas as cores. Um banco, sabe-se lá por quê, escolheu a cor-de-rosa. Fabricantes de cimento muito apropriadamente usaram o cinza, garante o especialista PC Farias. Outros, com menor capacidade organizacional, não chegaram a elaborar pastas, mas nem por isso deixaram de contribuir com as campanhas eleitorais.
É evidente que o ideal seria que uma campanha não custasse nada, que fosse unicamente um embate em torno de idéias e programas. Em nenhuma parte do globo contudo, infelizmente, a democracia chegou a tal estágio de desenvolvimento. Assim, poder econômico e candidatos a cargos públicos sempre caminham muito perigosamente perto um do outro.
Apenas a antiga lei eleitoral brasileira era "ingênua" a ponto de proibir doações de pessoas jurídicas a candidatos. Proibia, é bem certo, mas mantinha a "prudência" de não prever nenhuma espécie de punição para quem quer que fosse apanhado em flagrante delito. E o Brasil reinventou até mesmo o latim: "Nulla poena, cum lege".
Atualmente, uma legislação mais realista prevê a possibilidade de empresas contribuírem para candidaturas. O diploma contudo ainda está muito aquém da exigência de total transparência entre financiadores e financiados.
As listas agora oficiais permanecem ainda numa penumbra. Apenas os tribunais eleitorais têm acesso a elas. Quando se considera que até TREs surgiram nas listas dos financiados, o mínimo que se pode exigir é que as doações e também os seus valores sejam totalmente abertos ao público.
O fato é que a única forma de controlar as ligações perigosas entre poder econômico e político é tornar absolutamente públicas as contas de campanhas, e com seus valores reais e não subfaturados. Aliás, no mundo da política a única coisa que costuma ser subfaturada em vez de superfaturada são as contas de campanhas.
Para que o Brasil possa tornar-se um país sério é imperativo que se abram todas as pastas de todas as cores, não só as do passado, mas, principalmente, as do futuro. O eleitor tem o direito soberano e indelegável de conhecer aqueles que financiam o político em que ele vai votar, para que possa fazê-lo com amplo conhecimento de causa.

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