São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
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Banco pediu socorro em 94

JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No final de 1994, o departamento de fiscalização do BC passou a tomar o pulso do Econômico de modo mais sistemático.
Notou-se que o movimento de depósitos começara a minguar.
Em dezembro de 1994, época em que o presidente do BC era Pedro Malan, hoje ministro da Fazenda, o Banco Econômico começou a sentir falta de ar.
Recorreu ao balão de oxigênio do redesconto do BC. Quando um banco decide socorrer-se dos empréstimos de liquidez do redesconto é porque o seu movimento de balcão é deficitário.
Ou seja, a quantidade de dinheiro que capta do público é inferior ao montante de recursos que saem de seus cofres, na forma de saques. Como nenhuma instituição financeira pode fechar o dia no vermelho, o BC permite que saquem do redesconto.
Rezam as normas internas do BC que tais operações devem ser feitas apenas em ocasiões emergenciais e por períodos muito breves de tempo. A praxe é fixada pelo Conselho Monetário Nacional.
Pois no caso do Econômico, o BC contrariou os seus próprios regulamentos. O banco baiano permaneceu com os pés fincados no redesconto por nove arrastados meses, de dezembro de 1994 a agosto de 1995, quando a direção do BC decidiu finalmente decretar a intervenção no Econômico.
Em sua fase de agonia, o Econômico recorreu ao redesconto pela primeira vez a 19 de dezembro de 1994. Precisou de R$ 230 milhões para fechar as suas contas naquele dia. A rigor, o empréstimo nem poderia ter sido concedido.
Para ter acesso ao redesconto, o banco não pode exibir patrimônio líquido negativo. A direção do BC argumenta que os balanços do Econômico eram sólidos como rocha. Mas o argumento cai por terra quando confrontado com os sucessivos relatórios em que o setor de fiscalização do BC alertava para a inconsistência dos balanços.
A partir daí, não houve semana em que o Econômico não fosse buscar na enfermaria do BC o dinheiro que faltava para fechar a contabilidade. Excluídos sábados, domingos e feriados, o movimento era praticamente diário.
A necessidade de socorro do banco foi crescente. Em 16 de janeiro de 1995, por exemplo, precisou de R$ 265 milhões. No dia 6 de fevereiro, serviu-se de R$ 385 milhões.
Rompeu a casa do meio milhão em 3 de abril, quando teve de sacar no BC R$ 550 milhões. Nove dias depois, 12 de abril, já estava sacando R$ 850 milhões. Atingiu a casa de R$ 1 bilhão em 17 de maio de 95. A 10 de agosto, véspera da intervenção, o dinheiro injetado fechou em R$ 1,921 bilhão.
O procedimento não foi observado pelo BC. E graças a mais essa negligência, o Econômico sacou a descoberto, na véspera da intervenção, R$ 1,054 bilhão.
Somando-se esse rombo ao dinheiro arrancado do redesconto (R$ 1,921 bilhão), chega-se ao prejuízo total imposto ao erário: R$ 2,975 bilhões. Hoje, o rombo é estimado em R$ 3,5 bilhões.
A impressão que salta dos arquivos oficiais é a de que chegou-se a tal prejuízo porque a direção do BC, nos últimos anos, ignorou sucessivos pareceres técnicos de sua equipe de fiscalização, passou por cima das próprias normas e tratou o caso do Econômico segundo critérios que fogem ao campo técnico.
Foi esse conjunto de evidências que levou a Procuradoria da República do Distrito Federal a processar, por crime de improbidade administrativa, a atual diretoria do Banco Central, incluindo o seu presidente, Gustavo Loyola.
Estão incluídos também no processo, como ex-presidentes do BC, Pérsio Arida e Pedro Malan.
O principal objetivo da ação é obter o ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos. Os funcionários públicos implicados respondem solidariamente com Angelo Calmon de Sá.
Pretende-se ainda impor outros tipos de sanções aos envolvidos, entre as quais a inabilitação para o exercício de funções públicas.
(JS)

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