São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995 |
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Lavagem de dinheiro preocupa governo
XICO SÁ
Relatórios apresentados recentemente na 64ª Assembléia da Interpol (polícias federais de todo o mundo), em Beijing (China), mostram que a coca é plantada em larga escala na Amazônia brasileira. Estudos da Interpol revelam que os cartéis optaram pela plantação no Brasil por causa de uma praga de fungos que prejudicou a colheita no Peru e na Bolívia e do aumento do cerco contra a droga no Peru no governo Fujimori. As plantações preocupam o governo brasileiro, mas é a lavagem de dinheiro -transformação de recursos de origem ilícita em rendimentos legais- que assusta mais no momento. A cidade de São Paulo é apontada, inclusive por entidades internacionais, como uma atrativa "lavanderia". O Brasil não tem nenhuma norma oficial para punir esse tipo de crime. A situação é surreal: um rapaz pode ser preso com um cigarro de maconha e um traficante tende a ficar ileso depois de uma operação financeira de lavagem. "É um Brasil legal que aperta no varejo e um Brasil real que libera e deixa correr solto no atacado", diz o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, defensor da descriminação da maconha. Para tentar apertar o cerco no atacado, o governo criará a Agecafi (Agência Federal de Controle de Atividades Ilícitas). O projeto, feito pelos ministros Pedro Malan (Fazenda), Nelson Jobim (Justiça) e Clóvis Carvalho (Casa Civil), deve vigorar a partir de março. O governo avalia que as operações financeiras de lavagem de dinheiro movimentam pelo menos R$ 490 bilhões por ano no país. "Aqui a polícia corre por um lado e a Receita vai por outro", diz o senador Romeu Tuma (sem partido), ex-diretor da PF e vice-presidente da Interpol. "Nunca houve ação conjunta para deter tráfico e operações financeiras." Rota livre A frota de pequenos aviões que serve ao narcotráfico passeia sem atropelos em pistas clandestinas ou aeroportos no interior do país. Com capacidade esgotada, o Sindacta, sistema de controle de tráfego aéreo da Aeronáutica, funciona quase só para a aviação comercial. Este ano, por conta do desaparelhamento no combate ao tráfico, caiu o volume de cocaína apreendida. Em 1994, forma 11.800 kg. Em 95, até o dia 14 deste mês, a apreensão caiu para 5.100 kg. Texto Anterior: Revista 'The Economist' apóia liberação em editorial Próximo Texto: EUA gastam US$ 67 bi por ano para tentar combater o tráfico Índice |
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