São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os tentáculos do entretenimento

ANA MARIA BAHIANA
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

Para o futuro, a indústria do entretenimento já começou a definir sua forma de organização empresarial. Os dois modelos da empresa de entretenimento do futuro já estão em andamento -e, irônica e significativamente, estão sendo tocadas por dois ex-amigos e colaboradores, transformados pelas circunstâncias em arqui-rivais.
O modelo: o monstro criado pela recente aquisição do grupo ABC/Capital Cities pela já gigantesca Walt Disney Company, que coloca sob o controle de um mesmo núcleo um império com tentáculos em todos os continentes, com propriedades e interesses que incluem redes de rádio e TV -de difusão por ondas, satélite e cabo-, estúdios de cinema e animação, uma rede internacional de distribuição, editoras de livros e revistas, produtores de videogames, licenciadores de direitos de merchandising, parques, hotéis e investimentos imobiliários. "O império Disney/ABC é tão gigantesco que, muito em breve, vai ser realmente impossível saber para onde crescer", disse um analista da empresa Paul Kagan and Associates. "É bem provável que daqui a um ano ou dois, eles resolvam investir num negócio que, sem saber, eles mesmos já controlam.
O resultado imediato desse gigantismo: domínio total sobre o produto cultural oferecido ao público, num esquema de absoluta saturação do mercado.
À frente desse verdadeiro monopólio do entretenimento: Michael Eisner, presidente da Walt Disney Co, é o homem que, em pouco mais de uma década, transformou o perfil da empresa, de empreitada familiar em apuros em megaconglomerado de lazer.
O modelo: a DreamWorks SKG, empresa fundada por Steven Spielberg, Jeffrey Katzenberg e David Geffen, em outubro de 94. Pouco mais de um ano depois, a DreamWorks ainda não tem endereço fixo -embora provavelmente vá construir um estúdio de animação em Burbank e uma sede corporativa em Playa del Rey, dois bairros em extremos opostos de Los Angeles-, mas já amealhou acordos de distribuição com a Universal Pictures e, para discos, com a MCA, de licenciamento de merchandising com a Hasbro Toys, de produção de multimídia com a Microsoft e, de investidores diversos (inclusive os três fundadores), um caixa de mais de US$ 100 milhões, que a DreamWorks tem investido, essencialmente, em idéias: direitos de filmagem de livros, roteiros originais, um núcleo de criação (trabalhando na pré-produção do que será o primeiro filme do estúdio, o desenho "The Prince of Egypt", com estréia prevista para 97).
"Nosso modelo não é a linha de montagem, a fábrica gerada pela revolução industrial, disse Spielberg. "Nosso modelo é o campus universitário, um lugar no qual idéias são geradas e circulam livremente."
O estrategista da DreamWorks? Katzenberg, que foi o lugar-tenente de Michael Eisner durante os anos cruciais do soerguimento da Disney.
Quem vencerá este cinematográfico duelo de titãs? Ao futuro, a resposta.

Texto Anterior: Rede de intrigas interativas
Próximo Texto: O espetáculo na era digital
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.