São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
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Pesquisa pode originar tratamento para cegueira prematura em bebês

JOSÉ REIS
ESPACIAL PARA A FOLHA

A retinopatia proliferativa causa muitos casos de cegueira em diabéticos e bebês prematuros.
Ela consiste no crescimento de vasos sanguíneos anormais em toda a retina, podendo redundar em cegueira.
Em 1848, Isaac Michaelson, oftalmologista britânico, sugeriu que a própria retina produzisse um fator capaz de induzir a produção dos novos vasos.
Durante meio século, os especialistas procuraram sem êxito esse fator, que chamaram de X. Mas recentemente alguns trabalhos, um dos quais publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, indicam associação entre o suposto fator e uma proteína -chamada fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF).
Na verdade, o VEGF adapta-se bem às características do fator X. As condições que estimulam a retinopatia também provocam a produção do VEGF pelas células da retina, e o fator se encontra nos olhos com a retinopatia quando os novos vasos se estão formando.
Não há dúvida sobre o sinal que estimula a produção do fator: a necessidade de oxigênio que as células da retina sentem. Ela é sem dúvida o tecido mais metabolicamente ativo do organismo.
No diabetes, os capilares entupidos pela doença logo provocam falta de oxigênio na retina, daí surgindo a produção do fator X, que reclama a produção de novos vasos nas áreas deficientes.
Mas os novos vasos não crescem de acordo com a arquitetura normal, segundo ressalta J. Lloyd P. Aiello, e deixam vazar líquido do tecido do olho, não raro promovendo a formação de cicatrizes que podem contrair e descolar a retina, originando cegueira.
Essa informação de Aiello é veiculada por Marcia Barinaga em "Science" (267, 452).
Os bebês prematuros nascem antes de os vasos retinianos estarem prontos, observação que se adapta ao observado no diabetes.
Existem meios cirúrgicos para tratar essas condições, porém não são plenamente satisfatórios, o que aumenta o interesse pelo fator X. Em 1992, a revista "Nature" publicou artigos ligando a produção da proteína VEGF à falta de oxigênio, o que se verificou tanto "in vitro" quanto "in vivo".
Várias equipes confirmaram que o VEGT é fabricado pelas células retinianas, nas quais a falta de oxigênio estimula a produção do VEGT.
O VEGT também se encontra nas vizinhanças dos vasos novos em animais de experiência com retinopatia. Fica assim bem demonstrada a relação do fator com a retinopatia, confirmada em pacientes humanos.
Parece não haver dúvida quanto ao papel do VEGT na produção da retinopatia. Mas falta ainda uma prova: o bloqueio da nova formação de vasos por inibidores, o que cabe à biotecnologia providenciar pela produção de antifatores.

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