São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
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Verão, domingo

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Para quem vive permanentemente entre Rio e São Paulo, esta época é uma tortura. Não apenas pelas dificuldades de transporte, que aumentam com a euforia do fim de ano. Não, o duro mesmo é deixar o Rio rumo a mais uma ponte aérea, ao calor sem brisa, ao sufoco de São Paulo.
Chegou o verão e isso no Rio é uma festa, comemorada em cada ato, a cada minuto destes dias longos e estendidos pelo horário especial para o período.
Os corpos lindos, as paisagens deslumbrantes, o mar, tudo fica ainda mais bonito, mais desejável, mais difícil de deixar para trás.
"Como vai o Rio, com aquela violência toda?", insistem meus conterrâneos paulistas, compreensivelmente contaminados pela imagem da qual o balneário não se livra de jeito nenhum.
Nem pode, afinal. A violência continua na mesma medida da incompetência da polícia: a todo vapor. Sequestros, assaltos, balas perdidas.
É praticamente impossível para o paulista em geral e o paulistano em particular aceitar como podem duas realidades tão distintas conviverem digamos "em harmonia" numa mesma cidade. E o tiroteio na praia? E o sequestro no Cristo Redentor? E o assassinato na pista de cooper? Não há, não é bem assim, vamos com calma, tento inutilmente argumentar.
A violência da cidade já se tornou um estigma tão marcantemente impregnado em tudo o que significa Rio que às vezes ela precisa, para se realizar no imaginário pessoal de quem não a vive, existir em tudo e o tempo todo.
Bobagem.
Vamos olhar um pouco o horizonte de Ipanema e admitir o seguinte: nem tudo é sempre assim ou sempre assado.
E se o paulista implora desesperadamente para o domingo passar, como diz o refrão da música dos Titãs "Domingo", por aqui o que se pede é um domingo só, de segunda a segunda, porque afinal o verão chegou, a praia está demais e ninguém é de ferro.

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