São Paulo, domingo, 24 de dezembro de 1995
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Ouro para o Brasil

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Para quem saiu a medalha de ouro? Para o futebol? Vôlei? Natação?
Nada disso. O ano do esporte foi o de 1994. O Brasil brilhou o quanto pôde. Conseguimos até o tetracampeonato. Ninguém esperava. Além disso, veio a vitória das meninas do vôlei.
Mas, em 1995, a estrela do Brasil também brilhou. Conseguimos duas expressivas medalhas de ouro. Numa área em que isso é tão difícil -ou mais difícil- quanto no esporte. As medalhas estão com o Anderson Scalassara e Rogério Tergolina.
É bem provável que o leitor jamais tenha ouvido esses nomes. O presidente Fernando Henrique conhece os dois heróis. E sabe da sua proeza.
Aproveito esta coluna para dar destaque a esse evento que a imprensa pouco noticiou.
Pois bem. Em uma competição mundial entre 600 candidatos, quase todos de países bem mais desenvolvidos do que o Brasil, o torneiro Anderson e o eletricista Rogério classificaram-se em primeiro lugar no 33º Torneio Internacional de Formação Profissional realizado em Lyon, na França, de 8 a 18 de outubro de 1995.
O Brasil apareceu agora no campo do saber. Na arte das profissões. Na competência. Na disciplina. Foi uma vitória maravilhosa para um país cuja força de trabalho tem apenas 3,5 anos de escola.
Além dos dois talentos, outros dez garotos classificaram-se entre os cinco primeiros lugares da competição, o que colocou o Brasil em terceiro lugar no torneio, sendo superado apenas pela Áustria e Coréia e superando Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, França (anfitriã) e vários outros países altamente desenvolvidos.
Todos os contemplados são alunos do Senai. Para chegar lá, eles tiveram de vencer os torneios estadual e nacional na sua profissão.
Nessas duas etapas a competição foi também bastante dura. Eles toparam pela frente gente bem treinada e com vontade de vencer.
Um feito como esse merece o maior aplauso, especialmente quando se considera que este país tem 25% de analfabetos, sendo que os demais pouco aparecem em exames mais rigorosos.
Tem razão o ministro Paulo Renato de Souza quando coloca toda ênfase na qualidade da educação. E qualidade depende, sobretudo, de bom trabalho na sala de aula e, no caso da formação profissional, nas oficinas.
A rede oficial de escolas técnicas recebe do MEC cerca de R$ 500 milhões e atende apenas 75 mil alunos no setor industrial. O Senai, que recebe os mesmos R$ 500 milhões, atende 2,2 milhões de estudantes.
Além dessa espantosa diferença quantitativa, o Senai dá demonstrações inequívocas no campo qualitativo como essa conquista de uma premiação mundial.
Parabéns, garotos! Parabéns, professores! Parabéns, Senai! É desse ouro que o Brasil precisa.

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