São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 1995
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80 brancos em 600 moradores

ESTANISLAU MARIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALENQUER

Alguns poucos encontraram o quilombo sozinhos, como vendedores ou pescadores, e acabaram ficando por ali mesmo.
A miscigenação é relativamente recente e não há brancos idosos no quilombo. Tampouco existe segregação racial, pois os novos integrantes compartilham deveres, direitos e tradições com os demais.
Apesar de ser uma comunidade isolada, o quilombo busca, tanto quanto possível, algum conforto da vida moderna.
Não há energia elétrica. Os rádios a pilha, desde manhã, ficam sintonizados nas emissoras das cidades próximas. Às vezes, eles vêem TV ligada a geradores a diesel nos dois salões comunitários. "Vemos a novela e jogos importantes." Flamengo (RJ) e Botafogo (RJ) são os times preferidos.
Quando saem para pescar, os velhos vão de chapéu de palha, mas os jovens não dispensam os bonés dos times da NBA (a liga norte-americana de basquete). Além da pesca, o Pacoval vive da venda de arroz, feijão, milho e farinha de mandioca.
A comunidade produz hortifrutigranjeiros para consumo doméstico. A terra é coletiva, mas a produção é individual: cada um cultiva seu próprio lote.
A renda familiar média é de R$ 50, meio salário mínimo. As casas são de madeira, e todos comem o que produzem. Em Alenquer, compram produtos de limpeza, açúcar, café, óleo, cigarros, querosene e pilhas.
A tradição oral afirma que o Pacoval -a origem do nome se perdeu- foi fundado por um grupo de negros liderados por Manoel Rodrigues de Oliveira, que fugiu da propriedade de Maria Macambira, em Santarém (700 km a oeste de Belém), no fim do século 18.
Os descendentes dos fundadores desconhecem a língua e a religião de seus ancestrais. A única tradição forte é a dança do Marambiré, nome cujo significado é desconhecido. O Marambiré é uma festa comemorada em janeiro e mistura religião e homenagens aos reis e rainhas do Congo.
A língua falada no quilombo é o português, e a grande maioria dos habitantes é católica. Há alguns protestantes. Não há sinal de candomblé ou umbanda.
(EM)

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