São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 1995
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Polissílabos

O jornal "Wall Street Journal" descreveu o presidente FHC, em reportagem recente, como inclinado a polissílabos. Talvez a maioria das pessoas tenha achado que essa referência foi literária, como se o presidente gostasse de falar complicado e usar linguagem douta. Afinal, o presidente é um sociólogo.
Mas talvez se esconda um sentido mais grave, de natureza econômica, nesse gosto por polissílabos.
Vitorioso contra Lula, o presidente despertou expectativas em favor da desestatização e da abolição dos monopólios estatais. Numa palavra, polissílaba, passou-se a acreditar como nunca em privatização.
Mas o presidente não se contentou e preferiu outro polissílabo, a "flexibilização". Agora o presidente inclina-se por outro neologismo polissilábico, a "federalização".
De palavra em palavra, perde-se a precisão e aumenta a frustração dos que esperavam a privatização.
Os esquemas que o BNDES está criando, federalizando parcialmente patrimônio dos Estados para privatizar um dia, quem sabe, ilustram bem o problema. A originalidade da privatização tucana é que o muro continua intacto. O muro é o da muralha por trás da qual se aninham os inimigos da privatização.
A desestatização não sai do horizonte, mas no presente imediato o que se promove é uma maquiagem marota dos desequilíbrios contábeis do setor público.
De polissílabo em polissílabo, a privatização manquitola e predomina a maquiagem de problemas estruturais das contas públicas. Quantos novos polissílabos será possível inventar sem que o discurso perca totalmente o sentido?

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