São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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BC reduz, mas não elimina o prejuízo

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central vai continuar sofrendo desgaste porque a solução de assuntos importantes de sua pauta exige gasto de dinheiro público. Os assuntos são Banespa, Econômico e Nacional.
O BC já emprestou dinheiro para esses bancos. Seu objetivo é recuperar parte do que colocou lá nessas operações de redesconto.
Um operação desse tipo é feita quando, num determinado dia, um banco não consegue fechar suas contas -o que ele tem a pagar a clientes e aplicadores é maior do que os recursos que entraram no seu caixa.
Quando isso ocorre, o banco solicita um empréstimo ao BC e fecha as contas. O BC empresta contra algumas garantias, especialmente títulos do governo, e cobra juros altos.
Esses empréstimos devem ser ocasionais, para resolver desajuste temporário. Supõe-se que o banco não tem o dinheiro hoje, mas terá dentro de alguns dias.
Quando esse desajuste torna-se frequente e crescente, como nos casos do Banespa, Econômico e Nacional, caracteriza-se um déficit estrutural e o BC intervém.
Após a intervenção, o BC tem que cobrar dos clientes que devem ao banco sob intervenção, para se ressarcir.
No caso do Banespa, estima-se que o BC colocou lá algo como R$ 5 bilhões. Na teoria, o Banespa não está quebrado, pois tem a receber do governo paulista cerca de R$ 14 bilhões. Na prática, está quebrado, pois o governo paulista não tem como pagar.
A dívida supera a receita anual de São Paulo. Assim, o BC vai fazer um empréstimo para o governo paulista pagar ao Banespa. Vai entregar a São Paulo títulos do Tesouro (governo federal), com os quais será paga parte da dívida com o Banespa.
O Banespa venderá esses títulos no mercado e pagará o que deve ao BC, normalizando seu caixa.
Isso feito, o BC torna-se credor do governo paulista, que pagará em prestações mensais, com prazo entre 20 e 30 anos, e juros internacionais, abaixo de 10%.
Aí está o prejuízo do BC: vai receber com juros de, no máximo, 10%, mas sobre os títulos entregues ao Banespa pagará juros, hoje, de 30%. Os juros vão cair ao longo de 1996, mas nunca chegarão a 10%.
No Econômico, o BC já colocou R$ 3 bilhões em operações de redesconto. Neste caso, o BC pretende transformar o redesconto em empréstimo de longuíssimo prazo, com juros menores do que os de mercado, e vender o Econômico para o Banco Excel.
Trocaria, assim, uma dívida duvidosa de curto prazo por uma dívida boa de longo prazo. E, de novo, perde na diferença de juros.
No Nacional, o BC já colocou algo como R$ 4 bilhões. Fez a intervenção e vendeu a parte boa do Nacional ao Unibanco, por R$ 1 bilhão. Agora, o BC terá de liquidar o que sobrou do Nacional.
Liquidar é vender patrimônio e cobrar empréstimos feitos. O dinheiro assim obtido será utilizado para abater o prejuízo inicial. O que faltar para completar o buraco será cobrado da família Magalhães Pinto, antiga proprietária do Nacional, e de ex-diretores.
Se ainda não der, esse será o prejuízo do BC. E por que o BC precisa fazer esses prejuízos? A resposta do próprio BC: é o preço a pagar para evitar a quebradeira do sistema financeiro, que levaria toda a economia ao colapso.

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