São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Escola transforma história em arte

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

As imagens do holocausto de judeus na II Guerra Mundial, a fome em Bangladesh, o assassinato do líder negro Martin Luther King e os movimentos de mulheres pelo direito de voto viram arte na Escola Graham and Park em Cambridge, Massachussets -e revolucionam o ensino de história nos EUA.
Fonte de inspiração para esculturas, músicas, poesias, contos, pinturas, vídeos e peças de teatro, fatos históricos transformam em modelo essa escola de 1º grau -os currículos de estudos sociais e artes são integrados.
A Graham and Park faz parte de um esforço nos EUA, envolvendo as universidades, para produzir um currículo integrado na escolas, a fim de facilitar o aprendizado.
Os pedagogos consideram que a escola deve formar um permanente aprendiz, eternamente curioso e apto a navegar numa massa cada vez maior e mutável de informação, numa sociedade informatizada.
Já não se separa mais trabalhador de estudante, devido a necessidade de reciclagem do conhecimento. Isso significa a habilidade de integrar vários temas diferentes rapidamente -afinal, o conhecimento pode ser acessado facilmente. Um CD do tamanho de uma fatia de um pão de forma guarda todo o conhecimento básico da humanidade; a internet democratizou em nível jamais visto a produção mundial de dados.
Testes mostram que a imensa maioria dos jovens americanos são ignorantes sobre a história de seu país; menos da metade, por exemplo, sabe o que foi a Guerra e menos de um terço ouviu falar em holocausto. Poucos conseguem responder corretamente porque os peregrinos vieram colonizar o país.
Na maioria das vezes, o aluno se sente obrigado a decorar datas, nomes e não descobre como determinado fato influencia sua vida. O resultado é que não absorve o que aprende ou, se absorve, logo esquece.
Na escola Graham and Park, os alunos associam o prazer da artes com o prazer da descobertas histórica. As datas e nomes giram em torno de conceitos capazes de atrair e emocionar os jovens.
Algumas das perguntas trabalhadas em sala de aula mexem com os sentimentos de aventura e desprendimento, como, por exemplo, "o que é coragem?", "por que determinados indivíduos resolveram mudar e melhorar o mundo?" e etc...
A partir dessas indagações, eles navegam por personagens como Mahatma Gandhi, Martin Luther King ou Anne Frank, a menina cujo diário escrito num porão sobre a perseguição dos nazistas continua emocionando gerações de jovens por todo o mundo -e, aí, transformam em manifestação artística.
Nas aulas de teatro, aprendem como atuar, escrever ou dirigir. O tema escolhido deve ser pinçado nas aulas de história; a peça é exibida em vários teatros de outras escolas e pais são convidados não apenas a assistir, mas trabalhar como atores.
Durante o ano, os alunos devem apresentar um relato sobre o que aprenderam para um banca examinadora, formada por professora e pessoas notáveis da cidade ( artistas, jornalistas, políticos, empresários). O relato por escrito e oral é baseado na série de obras artísticas produzidas, relacionadas com os fatos históricos e os conceitos do tipo coragem e empenho a favor dos mais fracos.
O resultado é que a Graham and Park está atingindo os mais altos pontos em testes escolares nos EUA e há filas de famílias aguardando por uma matrícula.

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