São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Morte de Polloni encerra fase heróica

DA REPORTAGEM LOCAL

A morte de Sandro Polloni (nome artístico de Alexandre Marcelo Polloni), aos 75 anos, no último sábado, encerrou a "fase heróica" do teatro brasileiro. Ao lado de nomes como Flávio Rangel e Zbgniew Ziembinski, ele foi um dos consolidadores da arte de encenar no país.
Sobrinho de Itália Fausta, atriz descrita como "a maior trágica" brasileira pelo crítico Miroel Silveira, Polloni começou no teatro em 1938, no Rio. Naquele ano, fundou o Teatro do Estudante do Brasil, no Rio, com a estréia de "Romeu e Julieta", de Shakespeare, dirigida pelo ítalo-brasileiro Paschoal Carlos Magno.
A peça, na avaliação da historiadora Maria Tereza Vargas, "abriu o caminho para o moderno teatro no Brasil". Sua segunda montagem histórica foi "Desejo", de Eugene O'Neill, dirigida por Ziembinski em 1946.
O espetáculo foi da companhia Os Comediantes, a mesma em que, quando da remontagem de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, Sandro Polloni atuou ao lado das jovens atrizes Maria Della Costa e Cacilda Becker.
Com a primeira, ele recriou em seguida o Teatro Popular de Arte. Uma das suas primeiras montagens, em 1948, foi "Anjo Negro", na estréia da peça de Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski e com cenário do próprio Sandro Polloni.
Embora tenha trabalhado em algumas montagens como ator, resolveu subir menos ao palco para se dedicar à produção teatral.
"Ele dizia que não era bom ator, que iria ser empresário, para que eu fosse atriz", recorda Maria Della Costa, viúva de Polloni em um casamento de 45 anos. Foi Polloni que construiu o teatro que leva o nome da atriz, em São Paulo, em 1954.
Em reforma, o teatro deve reabrir no próximo ano.
Como produtor, Polloni deu a base para o surgimento de novos diretores e para a projeção internacional do teatro brasileiro. "Gimba", de Gianfrancesco Guarnieri, com direção de Flávio Rangel, excursionou pela Europa. A peça foi um marco de renovação da dramaturgia brasileira, em 58.
"A Alma Boa de Setsuan", na mesma época, foi a primeira montagem de um texto brechtiano no Brasil. Dirigida pelo italiano Flaminio Bollini, iria influenciar todo o teatro brasileiro posterior.
"Sandro talvez tenha sido o produtor mais importante do teatro brasileiro", diz o ator Juca de Oliveira.
"Quando todo mundo se preocupava em fazer teatro comercial, ele ia para o outro lado, com peças importantíssimas de autores brasileiros e internacionais", diz o ator.

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