São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995 |
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Desenho criado em computador parece real
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
As projeções indicam que vai se tornar um dos dez filmes de maior faturamento da história do cinema, atrás de "E.T.", "Jurassic Park", a série "Guerra nas Estrelas", "Batman" e talvez alguns outros. Como se não bastasse estar fazendo muito dinheiro, o filme também agradou aos críticos. Só recebeu elogios e já está indicado para a categoria de melhor comédia do prêmio Golden Globe. Há quem o veja na lista do Oscar. O segredo do sucesso neste caso, como em outros, é, ao mesmo tempo, simples e complicado. Simples, no enredo. Complicado, na tecnologia de sua realização. A história dos brinquedos é composta pelos mesmos elementos da dos humanos: ciúme, insegurança, coragem, maldade, companheirismo, amor. Woody, um velho cowboy, é o brinquedo preferido de Andy, um menino de seis anos. Nessa condição, ele lidera o quarto do garoto. Os brinquedos têm vida própria sempre que nenhum humano está por perto. Mas Woody vive com medo de que alguém venha a tomar o seu posto. Seus piores receios se realizam quando Andy ganha de presente de aniversário um fantástico astronauta, Buzz Lightyear. Buzz e Woody vão lutar pelo poder entre os brinquedos e pelo coração de Andy durante o filme. No meio do caminho, caem prisioneiros de um vizinho sádico, Sid, que se diverte torturando os seus próprios brinquedos. A desgraça comum une os rivais, que promovem uma rebelião na casa ao lado antes de se juntarem de novo a Andy. Para contar essa fantástica história, a Disney se associou ao pequeno estúdio Pixar, especializado em animação computadorizada em três dimensões e até agora conhecido mais por seus anúncios. John Lasseter, 38, com um Oscar por um curta-metragem ("Tin Toy", 89), é o nome atrás do sucesso de "Toy Story", um projeto de 550 bilhões de bytes de memória e 800 mil horas de computador. Sua empresa se tornou sociedade anônima logo depois do lançamento do filme, em novembro, e Lasseter se tornou, literalmente da noite para o dia, mais um milionário norte-americano. Em termos de tecnologia de cinema de animação, "Toy Story" equivale a "Steambot Willie", com que Walt Disney em 1928 deu início à revolução do desenho animado, com Mickey Mouse. Nenhum ser humano e nenhuma filmagem real aparece na tela em "Toy Story". No entanto, pelo menos por alguns minutos, não há quem não se sinta na dúvida se Andy é ou não uma criança de verdade filmada. As imagens de "Toy Story" passam uma noção de super-realismo, como um quadro de Davi Hockney, muito mais coerente com o espírito pós-moderno da cultura do final do século do que os tradicionais desenhos animados. A única humanidade material no filme são as vozes dos personagens. A de Woody é de Tom Hanks, de novo parte de um projeto de enorme sucesso. A de Buzz pertence a Tim Allen. Como criança pequena não vai ao cinema sozinho, "Toy Story", a exemplo de todos os filmes infantis bem-sucedidos, também é dirigido aos adultos. Um exemplo: o popular (nos EUA) brinquedo Mr. Potato Head, depois de ter seu rosto deformado, se redefine: "Eu sou Picasso". Mas o maior apelo para os adultos no filme está na concepção do filme, que é o mundo do faz-de-conta levado ao extremo. Ele leva os pais a recordações dos tempos em que imaginavam ser possível dar vida aos seus brinquedos e realimenta nos filhos a esperança de que isso aconteça. O problema, depois, é convencer as crianças de que é impossível ver os brinquedos fazendo em casa o que eles fizeram no cinema. Mas tudo bem: com um pouco de tato e imaginação, recontar "Toy Story" ainda vai funcionar durante uma semana como arma secreta para os filhos engolirem brócolis. Texto Anterior: O bem e o mal vacilam entre Rio e SP Índice |
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