São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Pecados acima do Equador

O conflito entre Executivo e Legislativo, que se esperava viesse a diminuir com a proximidade das festas, tornou-se mais intenso. Um governo estadual em bancarrota, náufrago de uma péssima maré financeira, processa a empresa de auditoria que lhe deu assessoria. E negócios privados do presidente da República continuam dando margem a dúvidas, levando o Judiciário a autorizar a quebra de sigilo sobre documentos relativos ao caso. O presidente ainda vai bem nas pesquisas de opinião pública, mas o seu desgaste é crescente.
Brasil? Não, trata-se de um retrato resumido da disputa na aprovação do Orçamento federal dos EUA, dos problemas do Estado norte-americano do Arkansas e da instabilidade política que atinge em cheio o governo do presidente Clinton.
Há também o caso do governo que está injetando quase US$ 8 bilhões para salvar os bancos. Esse mesmo governo está aumentando o endividamento público para gastar mais e tentar tirar o país da recessão. A popularidade do primeiro-ministro cai vertiginosamente. Alguma republiqueta ao sul do Equador? Não, no caso trata-se do Japão, a segunda economia do planeta, mergulhado numa das maiores crises econômicas e políticas de toda a sua história.
E o ex-império que se democratizou e liberalizou a economia a duras penas, apenas para assistir agora ao ressurgimento das forças políticas totalitárias, nacionalistas e militaristas, em meio a uma crise econômica de grandes proporções e do crescimento exponencial da corrupção? Pois assim caminha a Rússia, propagando calafrios pelas capitais européias.
A democracia e a estabilidade econômica passam atualmente por abalos, desafios e impasses nos quatro cantos do mundo. Não chega a ser propriamente um consolo para os brasileiros. Mas se há muito se fala em alcançar o Primeiro Mundo, hoje há evidências impressionantes de que, pelo menos em certos aspectos cruciais, há também muitos pecados acima do Equador.

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