São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
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Política salarial prejudica maioria dos trabalhadores

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova política salarial do governo, que desindexou os salários a partir de julho, já começou a trazer perdas para os trabalhadores.
A maioria das sete milhões de pessoas que trabalham na Grande São Paulo (com e sem carteira assinada) tiveram, na média, perdas salariais entre agosto e outubro deste ano. Os maiores perdedores estão concentrados entre os 10% que ganham menos (cerca de 700 mil trabalhadores que receberam até R$ 138,00 em outubro).
Entre o segundo mês de vigência da nova política salarial e outubro, eles perderam 3,2%. O período coincidiu também com forte desaceleração da economia.
Em agosto, o salário real máximo destes 10% mais pobres era de R$ 143,00, segundo pesquisa do Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).
Para estas 700 mil pessoas, agosto foi o pico salarial do Plano Real -que eliminou o "imposto inflacionário" que corroía os salários das pessoas mais pobres, que não aplicavam dinheiro no banco.
A nova política salarial do governo acabou com a exigência de as empresas corrigirem os salários de seus empregados pela inflação acumulada além de junho deste ano.
Ela foi definida pela medida provisória da desindexação, publicada pelo governo.
Muitas categorias menos organizadas, que teriam direito a reajustes automáticos pela política anterior, deixaram de tê-los a partir de julho.
O diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Celso Hahne sustenta que as perdas salariais estão concentradas "em um ou outro setor". "Essa história de perdas para a maioria é chute."
Segundo o Seade, todos perderam de julho para cá: dos que ganham R$ 138,00 ou menos aos que recebem R$ 1.600,00 ou mais (os mais "ricos" da pesquisa).
Na faixa dos 10% mais ricos (acima dos R$ 1.600,00), a perda é de 2,9% entre agosto e outubro. Entre dezembro de 94 e agosto passado, este segmento já havia perdido 6,8%.
"A curva de ganhos que beneficiou a parcela mais pobre dos trabalhadores desde o Real já inverteu-se para baixo", diz Sandra Brandão, economista do Seade.
Os 10% mais pobres de São Paulo ganhavam R$ 113,00 em dezembro de 94. Com o fim da inflação, o salário real médio deles subiu para R$ 143,00 em agosto (+26,1% sobre dezembro) e caiu em outubro para R$ 138,00 (-3,2% sobre agosto).
Neste fim de ano, completam-se seis meses de vigência da nova política salarial. O Seade estima que a situação de todas as faixas salariais deteriore-se em relação aos dados disponíveis de outubro.
Isto pelo fato de diversos setores terem registrado desempenho abaixo do esperado neste fim de ano, o que limita a concessão de aumentos salariais espontâneos.
O economista Marcio Pochmann, especialista em política salarial da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), acredita que 1996 promete salários mais baixos e cortes no número de empregados.
"O final de 95 foi atípico. O aumento do emprego, comum nesta época, não aconteceu. O início do ano, que sempre é fraco para as empresas, deve ser pior neste primeiro trimestre."

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