São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995 |
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Mestres do blues ganham coleção luxuosa
CARLOS CALADO
Com belas capas de papel, ilustradas pelas caricaturas bem-humoradas de Joe Ciardiello, além de livretos com textos analíticos e fotos raras, os primeiros sete volumes dessa série compõem uma das mais sofisticadas edições já dedicadas ao velho blues. Porém, o melhor mesmo está nos 11 CDs. Sem eleger um estilo de blues particular, a série apresenta mestres de várias correntes do gênero, seja o rural, o elétrico ou o rhythm and blues. O primeiro volume da série foi muito bem escolhido. Trata-se de um CD triplo com o guitarrista T-Bone Walker (1910-1975), pioneiro na guitarra elétrica. Registradas entre julho de 1942 e maio de 1949, as 75 faixas provam que o som de Walker foi influente tanto para o blues elétrico, como para o rhythm and blues e o rock and roll. "Quando ouvi T-Bone Walker tocar guitarra elétrica, eu simplesmente tinha que ter uma". O que pode ser mais significativo do que o reconhecimento do "rei do blues" B.B. King? Essas gravações de Walker confirmam ainda que seu brilho extrapolava a guitarra. Além de "showman" de primeira, era também um ótimo cantor. Outro blueseiro pouco conhecido no Brasil e que causou forte impacto nos primórdios do rock & roll foi o cantor Roy Brown (1925-1981), em gravações do período 1956-1958. "Good Rockin' Tonight" -o grande hit de Brown, gravado por Elvis Presley- não entrou nesta antologia. Mesmo assim, as 20 faixas são deliciosas, ainda mais os agitados rhythm and blues, que soam puro rock and roll. Um indiscutível "must" da coleção é "Rediscovered Blues", CD duplo que destaca uma das primeiras reuniões "all stars" no cenário do blues. Em julho de 1960, quatro mestres do gênero -o gaitista Sonny Terry e os guitarristas Lightnin' Hopkins, Big Joe Williams e Brownie McGhee- se encontraram em uma espécie de "jam session" de estúdio, que veio a se tornar clássica. O álbum traz também duas outras sessões históricas: uma com Sonny Terry e Brownie McGhee, parceiros constantes, em gravação de 1959; outra somente com Big Joe Williams, em 1968. Sonny Terry também ganhou um álbum individual na coleção. "Whoopin' the Blues" exibe seus vocais gritados e a harmônica frenética, em diferentes formações instrumentais, entre 1947 e 1950. Outro encontro de gigantes está registrado no CD "Chicago Blues Masters - Vol. 1". Durante um inusitado concerto de blues no Carnegie Hall de Nova York, em abril de 1959, o guitarrista Muddy Waters (1915-1983) e o pianista Memphis Slim (1915-1988) trocaram figurinhas. Em termos de estilos, foi uma parceria heterogênea. Mais calcado no blues tradicional e no "boogie-woogie" (uma forma pianística do blues), Slim faz um contraponto curioso com o blues eletrificado de Waters -referência para qualquer blueseiro moderno. A coleção se completa com os álbuns de dois figurões do blues tradicional: os guitarristas Son House (1902-1988) e Li'l Son Jackson (1916-1976). Menos popular que outros de seus contemporâneos, o texano Jackson exibe uma voz anasalada, alternando guitarra acústica e elétrica, em registros dos anos 50. Gravado em Londres, em 1979, o álbum de House traz um repertório muito pessoal, cultivado desde sua juventude no Mississipi. Misturando blues rurais e "spirituals" (cantos religiosos negros), o possesso House foi, de certo modo, um pioneiro "soulman". Títulos: T-Bone Walker; Sonny Terry; Chicago Blues Masters - Vol. 1 (Muddy Waters & Memphis Slim); Rediscovered Blues (Lightnin' Hopkins, Brownie McGhee, Sonny Terry & Big Joe Williams); Li'l Son Jackson; Roy Brown; Son House Lançamentos: Capitol/EMI Quanto: R$ 22,00 (em média, cada CD; edição importada) Texto Anterior: Dean Martin foi artista versátil e plebeu Índice |
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