São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dean Martin foi artista versátil e plebeu

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator e cantor norte-americano Dean Martin (pseudônimo de Dino Paul Crocetti), que morreu na última segunda-feira, aos 78 anos, sempre foi uma espécie de coadjuvante de luxo em Hollywood.
Filho de imigrantes italianos, ex-pugilista e ex-crupiê, ostentava uma espécie de beleza plebéia e um savoir-faire popular que conferiam um lastro de vida real a seus personagens, por mais fantasiosos que fossem o ambiente e a história em que se moviam.
Na "vida real" foi casado três vezes e teve sete filhos.
Amigo do copo e do cigarro até o fim da vida, Dean Martin desempenhou nas telas, não poucas vezes, o papel de bêbado, malandro, boêmio, charlatão.
Atuava, de certo modo, na mesma raia de Cary Grant, a do galã maroto e bon vivant, ainda que sem a elegância e a nobreza daquele.
Mesmo não sendo um ator especialmente talentoso, Dean Martin sabia encontrar o tom certo de interpretação que servisse à interação com seus (ou suas) "partners".
Jogava, de certo modo, "para o time", realçando o brilho das estrelas com quem contracenava. Talvez por isso tenha conseguido uma parceria tão frutífera e marcante com Jerry Lewis, este sim um gênio da comédia. A dupla fez 16 filmes entre tapas e beijos -mais tapas do que beijos, segundo consta.
Nas comédias em que atuou sem Lewis, mostrou que era capaz de fazer rir por conta própria. Veja-se, por exemplo, a arrasadora "Beije-me, Idiota" (1964), de Billy Wilder, em que contracenou com uma Kim Novak deliciosa (em todos os sentidos).
Mas não foi só na comédia que Martin deu conta do recado. Quando solicitado, encarou com a mesma segurança westerns, musicais e melodramas.
Duas de suas melhores atuações ocorreram em faroestes estrelados por John Wayne, "Rio Bravo - Onde Começa o Inferno" (1959) e "Os Filhos de Katie Elder" (1965).
No primeiro, um clássico dirigido por Howard Hawks, Martin é o pistoleiro alcoólatra que se reabilita fisica e moralmente ajudando o xerife John Wayne a impedir que um bando de criminosos tire um companheiro da cadeia.
Em "Os Filhos de Katie Elder", um dos dois faroestes de Henry Hathaway em que atuou (o outro foi "Pôquer de Sangue"), Martin e John Wayne são dois dos quatro filhos de uma rancheira que se reúnem para vingar a morte da mãe e reaver suas terras.
No musical, Martin tinha pelo menos dois títulos dignos de nota em seu currículo: "Essa Loura Vale um Milhão" (1960), de Vincente Minelli, em que contracenava com Judy Holliday; e "Robin Hood de Chicago" (1964), de Gordon Douglas, paródia musical dos filmes de gângster, em que Martin brilhou ao lado de seus amigos Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Bing Crosby.
Como cantor, dizia-se "cem por cento imitador de Bing Crosby". Com sua voz de barítono, rasgou corações com canções românticas como "Volare" e "Everybody Needs Somebody". Mostrou seu talento de "showman" no palco e na televisão, em programas como "Dean Martin Show".
Vai ficar, enfim, como um artista caloroso e versátil que, mesmo sem muito refinamento, soube atingir o coração do público.

Texto Anterior: O Natal também é um convite à virtude
Próximo Texto: Mestres do blues ganham coleção luxuosa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.