São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 1995 |
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'Locadora não tem boa memória'
CELSO FIORAVANTE
"Era em Campinas, onde nasci. Me lembro de ser levada pela mão por meu pai e de entrar em uma sessão lotada -deveria ser gratuita- de 'O Homem da Máscara de Ferro' ". Lembra de ir ao cinema, aos três anos de idade, e ficar perguntado para a irmã mais velha o que os atores estavam dizendo. Aos quatro, já sabia ler, e assim a irmã já podia acompanhar o filme mais tranquilamente. Lembranças essas de Santa Cruz das Palmeiras, no interior do São Paulo, onde o tio era dono de uma sala de cinema. Sua estratégia de marketing era escrever a programação com cal molhado em lousas e espalhá-las pela cidade. Deveria dar certo, pois em várias ocasiões as duas irmãs tinham que dividir uma mesma cadeira. Campinas, sua cidade natal; Santa Cruz das Palmeiras, onde o tio era dono de um cinema; Ribeirão Preto; onde passou parte da juventude; São Paulo; onde construiu sua vida profissional; Los Angeles; onde mora o filho atualmente. Todas essas cidades contribuíram e contribuem para o desenvolvimento de sua paixão -quase obsessiva- por cinema e vídeo. Lembra ainda do primeiro beijo, que foi dentro de um cinema, em uma matinê. E da primeira pegada de mão também. "Foi dificílima. A gente cruzava os braços e dava a mão por baixo do braço para que ninguém visse." Nem precisa dizer que Gabi não lembra o filme que estava passando nas duas ocasiões. Marília Gabriela ainda hoje vai muito ao cinema, embora as facilidades proporcionadas pelo vídeo tendam a segurá-la em casa. "Eu não encaro filas muito grandes ou cinemas de difícil acesso. Tentei ver 'Sem Fôlego' na última Mostra e acabei vendo 'O Balconista', que estava na sala ao lado e que acabei adorando. Prefiro ir em cinema na matinê, tipo duas horas da tarde. Esse é o meu horário favorito. Assim dá para rir alto, comer pipoca, relaxar mesmo." Gabi pode ficar horas dentro de cinemas. Isso é mais frequente nos grandes complexos de cinema de Los Angeles, onde vive seu filho. "Vou pulando de uma sessão para outra e no final sinto até uma sensação de vazio, de quem está fugindo de alguma realidade." Com o vídeo é a mesma coisa, elevada ao quadrado. "Já teve casos de eu ver 17 filmes de sexta-feira à noite até o final de domingo. Casos em que eu virei ostra mesmo." Essa obsessão fica mais impressionante ainda quando se sabe que, por exemplo, Gabi nunca deixa de assistir um filme até o final. Isso mesmo. O filme pode ser um tremendo abacaxi, mas Gabi vai até o final. "Me sinto na obrigação de ver até o final. É uma coisa compulsiva. Acontece a mesma coisa com livros. Fico pensando: Como é que vou poder criticar se não vi todo? E tem alguns tão ruins que eu até me divirto." Mas se a qualidade de uma fita não a incomoda tanto, não acontece o mesmo com o serviço prestado pelas distribuidoras e locadoras. Marília Gabriela fica revoltada com a estratégia de marketing das distribuidoras, que espalham cartazes e anúncios em jornais e revistas muito antes de o filme começar a chegar nas locadoras. "Vejo o anúncio no jornal, na revista ou o outdoor e aí eu fico ligando semanas para a locadora e nada! Isso cria uma expectativa muito chata no espectador", reclama. "Também acho que as locadoras não têm uma memória muito boa. É quase impossível encontrar títulos do Cinema Novo nas locadoras e muitos deles já foram lançados no mercado." Em breve será possível ver a performance de Marília Gabriela também em frente às câmeras de cinema. Gabi faz o papel dela mesmo -a apresentadora de TV- em "Jenipapo", de Monique Gardemberg, e recentemente gravou sua participação em "Ed Mort", de Alain Fresnot. Texto Anterior: Sharon Stone quer ganhar Oscar para começar a ser levada a sério Próximo Texto: PREFERIDOS DE GABI Índice |
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