São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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Novo Shelter prega a transcendência

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pode ser a suprema ironia ouvir um grupo punk cantando música dos Beatles. Em 1977, Johnny Rotten, dos Sex Pistols, condenava Beatles e Rolling Stones pelos descaminhos da música moderna. Mas não há grupo mais próximo da tese de paz, amor e filosofia oriental dos Beatles que Shelter.
Os integrantes do grupo punk descobriram a iluminação dos Hare Krishnas. Suas músicas pregam a transcendência espiritual, o vegetarianismo, a paz e o amor não carnal. Não é de estranhar que Shelter tenha regravado "We Can Work It All", dos Beatles.
Mas Shelter não chega a ser a novidade que parece. "Mantra" é o terceiro disco da banda. Além disso, antes de ser Shelter, o vocalista Ray Cappo e o guitarrista Porcell já inspiravam culto à frente da banda Youth of Today, de NY.
Shelter veio à tona com toda a cena hardcore (o punk americano), depois que Green Day e Offspring reinventaram o estilo como música pop (mais de cinco milhões de discos vendidos, cada). O que parece novo apenas não era visível.
A música do Shelter é populista ao extremo. Entre gritos de raiva e harmonias de pop exemplar, segue a causa "straight edge".
A expressão "straight edge" surgiu numa música do grupo Minor Threat, no início da década de 80, e tem sido usada, até hoje, para rotular o punk antidrogas, antibebidas e antiviolência -embora Ian Mackeye, o autor de "Straight Edge", atualmente no grupo Fugazi, diga que nunca existiu um movimento com esse nome.
Fugazi, Minor Threat e Black Flag são inspirações evidentes na música do Shelter, tanto no estilo vocal falado quanto na predominância do baixo nos arranjos. A percussão criativa, os picos de guitarra e vocais agudos, por sua vez, lembram Jane's Addiction.
Passeando pelo punk pop consagrado pelo Green Day, por cânticos Hare Krishna e pelo hardcore de veia estourada, "Mantra" não permite preconceitos.

Disco: Mantra
Banda: Shelter
Distribuição: RoadRunner

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