São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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'Kit da lata' ajuda acervo da Cinemateca

ELVIS CESAR BONASSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um projeto de "reciclagem de sucata cultural" vai salvar da deterioração até 10 mil filmes do acervo da Cinamateca, instalada no prédio do antigo matadouro da Vila Mariana.
As latas de metal usadas para guardar os filmes, já enferrujando, estão sendo vendidas em um kit que inclui um CD da banda Obana, uma camiseta, uma camisinha e um maço de incenso indiano, entre outros produtos.
No preço de venda, R$ 25, está incluindo o valor necessário, cerca de R$ 2,50, para adquirir uma nova lata de plástico, mais adequada para o acervo da Cinemateca. Cada kit vendido significa um filme em lata nova.
O idealizador do projeto, Alexandre Madeira, 29, teve a idéia quando viu cerca de 700 latas antigas empilhadas em um galpão da Cinemateca. Destino ferro velho.
Entre elas, havia algumas latas históricas, como um conjunto de dez delas, pintadas de branco, que serviram para abrigar o clássico do Cinema Novo "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha.
Foram as "latas fundamentais", segundo batismo dado por Madeira. Charme especial: elas possuíam os carimbos de todos os festivais em que o filme tomou parte e a assinatura do próprio Glauber. Estavam no lixo.
Membro da banda Obana, Madeira teve a idéia de usar as latas para acelerar a venda de seus CDs, ao mesmo tempo em que convertia seu projeto de marketing em proposta de restauração do acervo.
O acerto com a Cinemateca foi rápido. Era apenas uma questão de transformar lixo em lata nova. Os kits foram montados na casa dos integrantes da banda e postos à venda, de mão em mão.
Em um mês, 2.000 latas estavam vendidas -além das 700 do lixão original, a Cinemateca ainda entrou com mais 1.300, liberadas pela troca com latas de plástico que já possuía. O preço inicial de venda era R$ 20.
Um novo lote foi preparado. Só que, agora, está à venda nas lojas da Planet Music, que resolveu entrar no projeto, batizado de "100 Cinema/100 Cultura". Para fazer a distribuição, subiu o preço para os R$ 25 atuais.
Também do lixo saiu um dos produtos que compõem o kit da lata. Destinadas à incineração, fitas de filmes pornográficos foram recortadas, fotograma a fotograma. Cada pedaço foi colocado em um monóculo de sexo explícito.
Segundo Madeira, a compra das latas novas vai ser feita quando a vendagem dos kits alcançar 10 mil. Nessa quantidade, o preço das latas de plástico cai. Se a vendagem não for alcançada, o dinheiro da porcentagem da Cinemateca será repassado à instituição.
"Nossa proposta é que o projeto não pare", diz Madeira. Ele afirma que, além da troca de latas, a campanha serviu para gerar atenção sobre a Cinemateca.
Foi por meio dos kits, por exemplo, que um empresário ficou sabendo do problema e resolveu ajudar a instituição.

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