São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995![]() |
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"Turismo judaico" expõe intolerância
IGOR GIELOW
Para não-judeus, o complexo do bairro hebraico da cidade é um verdadeiro museu da intolerância. Para judeus, apenas pelo valor emocional já deve valer a visita. O bairro judeu fica a cinco minutos, a pé, da Old Town Square (praça central). As visitas, a partir de 1990, são coordenadas pelas lojas da área em um "pool" que oferece guias, mapas e cobra entradas que variam entre US$ 2 e US$ 5, dependendo do circuito. A maior atração é o Cemitério Judeu. São 12 mil lápides de mortos entre os séculos 15 e 19 em um pequeno quarteirão. Como o governo da Boêmia, cristão, não tolerava a comunidade judaica, seus mortos tinham de ser enterrados em um sítio pequeno -assim, uma lápide se sobrepõe às outras. Lá está enterrado, além de Franz Kafka, o personagem mais forte da comunidade judaica tcheca: o rabino Lõw, morto no século 17. Ele é o protagonista da lenda do Golem, o boneco de barro criado pelo rabino para proteger os judeus da tirania do rei Rodolfo 2º. Segundo a lenda, o boneco ganhou vida sob os encantamentos do rabino. Porém, revoltou-se e tentou matá-lo -tendo sido, então, destruído. Os guias do bairro judeu, porém, garantem que o boneco está vivo (e está, pelo menos em camisetas e postais) dentro da Antiga-Nova Sinagoga. Ela é um dos pontos altos da visita. Construída no século 13, é a mais antiga da Europa Central. Foi ponto de resistência contra o nazismo e, por pouco, não foi destruída na Segunda Guerra. A sinagoga de Pinkas, ao lado do cemitério desde 1492, guarda pintada em suas paredes o nome dos 77.927 judeus mortos pelos nazistas durante a ocupação da Boêmia e da Morávia. Escapou da destruição pelas SS. Em 1967, a Guerra dos Seis Dias entre Israel e os árabes apoiados pela URSS opôs todos os países do bloco soviético às comunidades judaicas. O Museu Judaico é a menor parte do complexo. Apresenta uma coleção impressionante de desenhos de crianças tchecas do campo de concentração de Terezín que foram levadas para a morte em Auschwitz. Impossível permanecer neutro. Porém, após estar desmontado psicologicamente, o visitante encontra na última sala um enorme gabinete de vidro cheio de dinheiro para doações -fazendo-o desconfiar das intenções da organização da exposição. O campo de Terezín, a meia hora de Praga, é diferente: era usado como "campo-modelo" para vistorias da Cruz Vermelha Internacional durante a guerra. Apesar de não haver extermínio em massa, milhares morreram por doença e falta de comida. Texto Anterior: Inverno realça a melancolia e arquitetura da capital tcheca Próximo Texto: Comunismo ainda marca a cidade Índice |
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