São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995
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Inverno realça a melancolia e arquitetura da capital tcheca

IGOR GIELOW
EDITOR-ADJUNTO DE ECONOMIA

A melhor época para visitar Praga é o inverno. O frio rigoroso e a neve realçam o paradoxo que permeia pontes, ruelas e torres da capital da República Tcheca: a cidade é jovem, efervescente, e ao mesmo tempo exprime melancolia profunda.
Praga é bela, provavelmente o sítio arquitetônico mais bem conservado da Europa. Atrações como a ponte Charles, obra gótica construída a partir de 1357 que possui réplicas de estátuas barrocas, e a praça antiga, que reúne prédios góticos, barrocos e renascentistas lado a lado, são de tirar o fôlego.
A República Tcheca é, essencialmente, um país jovem. Boa parte da população economicamente ativa está na faixa entre 20 e 30 anos. Jovem também porque, seis anos após a queda do regime comunista pró-soviético, as discussões sobre o rumo da democracia no país animam esquinas, jornais e eventos culturais.
A agitação da cidade se faz na programação musical, que privilegia Mozart (que "adotou" a cidade) e o filho pródigo Dvórak, nos teatros e óperas.
O Teatro Nacional e o Lanterna Magika são, respectivamente, mecas do antigo e do novo em artes cênicas. No último, o misto de presidente e dramaturgo Vaclav Havel planejou com colegas a Revolução de Veludo, o movimento que derrubou o comunismo.
Os bares seguem a tradição da região da Boêmia e oferecem meio litro de cerveja a R$ 1, bom vinho tinto e aguardente (tente a Slivovice, de amoras selvagens). O presunto da cidade é provavelmente o mais famoso do mundo: dizem que quando adentrou pela cidade conquistada, em 1939, Adolf Hitler não sossegou enquanto não comeu uma porção generosa saqueada de uma loja.
O frio, que pode chegar a quase dez graus negativos durante a noite em dezembro, incentiva a frequência em lugares fechados. A neve, por sua vez, emoldura os telhados seculares e enfeita a cidade.
Mas Praga é melancólica, estado de espírito que tem no frio seu par natural. A cidade é dona de uma tristeza que se revela por meio da beleza meio fúnebre de suas atrações -um dos principais cartões-postais, o Relógio Astronômico, abriga um esqueleto representando a morte que aciona um carrilhão por onde passam os apóstolos de Cristo e os pecados do mundo. Desde 1410.

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Sobre Praga às págs. 6-12 e 6-13

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