São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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Intervenção no Banespa faz 1 ano em impasse

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A "novela" Banespa completa hoje um ano. Parece estar nos capítulos finais, mas a impressão pode ser falsa. Ao longo desses 12 meses, já ocorreram situações semelhantes: a solução parecia à vista e, de repente, voltava-se ao impasse. Como agora.
Foi na manhã de 30 de dezembro de 1994 que os interventores do Banco Central ocupavam seus lugares na sede do Banespa, em São Paulo. Começava uma desgastante disputa política entre parte da equipe econômica e o governador paulista Mário Covas.
Ministério da Fazenda e Banco Central davam como certo que a história terminaria com a privatização do Banespa. Seria, inclusive, uma ação exemplar por São Paulo ser o Estado mais poderoso governado pelo PSDB de FHC.
Hoje, diretores do BC dão como certo que a solução para o Banespa será exemplar, mas no sentido contrário ao que esperavam. Vai mostrar que, por razões políticas, o BC pode ser levado a dar condições especiais para um governo ficar com seu banco.
Hoje, a preocupação do grupo Fazenda/BC é, antes de mais nada, tirar o assunto da agenda. Em princípio, qualquer solução melhor do que deixar o caso se arrastar, o que mantém o BC sob pressão de setores políticos.
Tanto é verdade que o BC e a Fazenda já aceitaram condições que antes rejeitavam de pronto. O governo federal aceita emprestar dinheiro, em condições especiais, para o governo paulista capitalizar o Banespa; e aceita comprar aeroportos paulistas e a rede de trens da Fepasa, adiantando outros recursos que também vão para o caixa do Banespa.
O acordo, nesses termos, foi fechado exatamente no dia 13 de dezembro, à hora do almoço, num telefonema entre o secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, negociador pela Fazenda, e o economista Adroaldo Moura da Silva, pelo governo paulista.
Quase estouraram o champanhe. Mas como as partes diziam desde setembro que a "novela" estava no fim, resolveram esperar mais alguns dias. Perderam a chance.
Primeiro, o governador Covas reclamou da prestação que teria de pagar a Brasília, de R$ 100 milhões por mês. Depois, conformou-se com valor pouco menor.
Aí foi a vez do BNDES encrencar. No negócio, o BNDES foi designado para comprar a totalidade das ações da Fepasa. Adiantaria o dinheiro ao governo paulista e depois se ressarciria privatizando a rede ferroviária.
No acerto, a Fepasa entraria por um valor entre R$ 3,6 e R$ 3,8 bilhões. Não foi definido como será o adiantamento dos recursos.
E foi aí a última complicação. Se oferecer vantagens a São Paulo, o BNDES será pressionado a fazer o mesmo por outros Estados que participam do programa de ajuste fiscal patrocinado por ele.
Aparentemente, o BNDES ainda resiste.

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