São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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A criança e a paz

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Por ocasião da entrada do Ano Novo, o papa João Paulo 2º oferece a todos mais uma vigorosa mensagem de paz. Neste ano de 1996 o tema é altamente sugestivo. "Demos às crianças um futuro de paz." Convoca os homens e mulheres de boa vontade para ajudar as crianças a viver sua infância serenamente, a crescer num clima de autêntica paz. "É seu direito; é nosso dever."
A mensagem abre com a visão penosa das crianças vítimas da violência. Milhões de crianças assassinadas e mutiladas nas guerras. Crianças perseguidas e eliminadas nas "depurações étnicas". Confinadas em acampamentos onde sofrem fome e maus-tratos. Adolescentes obrigados a lutar nas guerras e a caminhar na dianteira, limpando campos minados.
A miséria causa outras violências. Crianças obrigadas a trabalhar. Crianças vítimas de extorsão e abuso sexual, entregues à mendicância e à prostituição. Aliciadas à distribuição de drogas. Abandonadas nas ruas pelas famílias ou fugidas de seus lares.
Crianças e adolescentes, mesmo que não lhes falte o pão e o dinheiro, sofrem por causa das tensões entre seus pais e da separação familiar. Crianças tristes. Crescem na solidão, sem quem as guie com amor e oriente na vida moral.
Alude, ainda, o papa João Paulo às crianças indefesas diante da TV, atraídas por ideais vazios e falaciosos, caindo no desencanto e insatisfação.
Por que a lembrança de tantos dramas? É para que possamos nos convencer da necessidade de assegurar às crianças condições favoráveis para uma educação da paz.
A primeira responsável por essa educação é a família. O testemunho de amor recíproco entre os pais deve oferecer aos filhos os valores indispensáveis de acolhimento, partilha, gratuidade, perdão e amor a Deus.
A exemplo dos pais as crianças aprendem, no dia-a-dia, a enfrentar as inevitáveis dificuldades, com coragem e humildade, num ambiente de respeito e estima. É no lar que descobrem que todos os seres humanos, sem discriminação, são destinados a se aceitarem uns aos outros e a formar uma única família.
Na escola as crianças precisam encontrar a formação para a paz no acatamento às opiniões diferentes das suas, na compreensão das exigências da paz e no conhecimento de seus mais abnegados artífices em todas as fases da história.
A mensagem pontifícia termina lembrando duas grandes lições que iluminam o ano que começa:
1) A paz é dom de Deus, mas depende de nós acolher esse dom e edificar o mundo de paz, desde que nós mesmos tenhamos a mansidão e simplicidade de coração das crianças.
2) "Fazer-se pequeno como crianças" (Mc 10, 15) significa confiar em Deus mesmo quando as situações forem difíceis e a força do mal tão prepotente que nos levariam ao desânimo.
"Quem é capaz de reaver a simplicidade e abandono da criança não esmorecerá e há de, novamente e sempre, esperar em Deus'. Maior é a confiança quando, pela fé que Jesus Cristo nos dá, temos a certeza de que é o próprio Deus que quer e nos auxilia a promover a concórdia e a solidariedade entre todos.
Que as crianças, em 1996, nos ensinem a ter o coração novo e a construir para elas o futuro de paz.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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