São Paulo, sábado, 30 de dezembro de 1995
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Eles voltaram

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - É difícil dizer se o ressurgimento dos governadores na cena política é uma coisa boa ou ruim. Fácil, em todo o caso, é afirmar que estava demorando demais.
Na história recente -e não tão recente- os governadores sempre foram figuras de grande peso. Foram, por exemplo, os governadores que deram sustentação e apoio à conspiração cívico-militar que resultou no golpe de 1964. Adhemar de Barros (SP), Magalhães Pinto (MG) e Carlos Lacerda (RJ) se intitulavam, com razão, líderes civis do movimento.
É claro que, no pós-64, os governadores sumiram do mapa, por serem biônicos. Mas voltaram tão logo se restabeleceram as eleições diretas no plano estadual.
Basta lembrar o papel de Franco Montoro, Tancredo Neves e Leonel Brizola (de novos, dos três Estados antes citados e na mesma ordem) na campanha das Diretas-Já.
A partir daí, o desempenho dos governadores voltou a ser pouco nobre. Foram três deles (outra vez, os do Rio, São Paulo e Minas) que ajudaram a derrubar Dilson Funaro do Ministério da Fazenda, em 1987. Foram todos, menos Fernando Collor de Mello, que ajudaram a fazer aprovar os cinco anos de mandato para José Sarney.
Agora, cinco deles propõem-se a formar uma espécie de cinturão defensivo em torno do presidente da República, para evitar que este se veja obrigado, a cada cinco segundos, a defender-se de intrigas, fofocas, acusações e até de fatos menores, que deveriam resolver-se no terceiro escalão em vez de chegar ao primeiríssimo.
Não há mal intrínseco nessa atitude. Ao contrário, é um ato de lealdade partidária já que todos são do mesmo PSDB, até Antônio Britto, que está no PMDB mas tem bico, porte e plumas de tucano.
O mal pode vir se os governadores se limitarem a fazer o papel de conquistadores do Oeste defendendo a diligência presidencial da indiada. É pouco. Todos têm história, peso e jeito para ir além e empurrar a diligência para uma direção menos limitada do que a atual.
Podem, principalmente, exercer um papel que ninguém no Planalto Central está executando: o de dizer, eventualmente, "errou, chefe".

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