São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Terra não serve à agricultura e produtividade no Pontal é baixa

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os assentados no Pontal do Paranapanema (extremo oeste de São Paulo) estão pagando o preço de um erro de avaliação do governo na implantação dos projetos de reforma agrária naquela região.
Hoje, a produção agrícola dos ex-sem-terra é muito baixa porque as terras são fracas para a agricultura. Só agora está sendo estimulada a criação de gado de leite.
"A produção de leite é a tendência em todo o Pontal", diz Maria Judith Magalhães Gomes, 39, diretora do centro de planejamento e projetos do Instituto de Terras de São Paulo (Itesp).
Essa é a posição dos fazendeiros. "A terra aqui precisa de muito investimento, adubo e calcário. E você não investe num Chevette 76. O que dá é gado, diz Célio Romero de Souza, diretor do Sindicato Rural de Presidente Prudente.
Vários fatores jogam contra os assentados, a começar pela descapitalização do campo. No caso dos ex-sem-terra, o jogo é ainda mais pesado, já que não têm recursos e sofrem com atraso no crédito.
Ainda assim não se vê miséria no assentamento de Água Sumida, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste da capital paulista), visitado pela Folha. Considerado um dos piores do país pelo Incra e "bom dentro do contexto" pelo Itesp, o Água Sumida existe desde 1988.
Ali estão 121 famílias, que trabalham a terra de forma individual. Não há uma organização cooperativa forte e, das primeiras 121 famílias assentadas, cerca de 40 desistiram.
A produção prova os equívocos. A safra de milho, por exemplo, começou com 1.200 kg por hectare (88-89), subiu para 1.800 kg/ha (90-91), caiu para 1.240 kg/ha (92-93) e voltou a subir para 1.950 kg/ha. O ideal é 3.700 kg/ha.
A safra de algodão começou com 0,5 arroba/ha em 88-89. Subiu para 72 arrobas/ha em 90-91, mas vem despencando. Hoje, é de 38 arrobas/ha. Uma boa produção seria 150 arrobas/ha.
No caso da mandioca, o quadro é semelhante. Os assentados chegaram a produzir 24 toneladas/ha (90-91), quatro toneladas acima do padrão. Mas a safra 94-95 caiu para apenas 9 toneladas/ha. "Dá vergonha de falar", diz Ana Lúcia Carneiro, 26, agrônoma do Itesp. "O solo é bem ruim, por isso não está bem", afirma Judith Gomes, técnica do Itesp. A tendência é que essas culturas virem de subsistência.
O preço de venda também desestimula a produção. Hoje, a tonelada de mandioca vale só R$ 20, e a arroba de algodão, R$ 5 (o produtor gasta R$ 2 só na colheita). Já com o gado, em 1994, foram produzidos 420 mil litros de leite. A produção diária por vaca é de 4 litros, acima da média nacional de 3,8 litros/dia.

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