São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Oposição deu menos trabalho que os aliados

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB), define em uma frase a relação situação-oposição ao fim do primeiro ano do governo FHC: "O único que criou problemas para o governo foi o governo".
É uma maneira de dizer que, talvez pela primeira vez na história republicana, o governo de turno enredou-se em crises, embora menores do que a de governos anteriores, sem que, simultaneamente, a oposição passasse a ter presença mais marcante.
A oposição concorda em parte com essa avaliação. José Dirceu, presidente nacional do PT, admite que, no primeiro semestre, a oposição esteve pouco ativa, mas acha que, no segundo, já emergiu de seu relativo imobilismo.
Concorda com ele Marco Aurélio Garcia, secretário de Relações Internacionais do partido, que dá explicações ao fenômeno:
"O PT está se recompondo lentamente de duas coisas: não se perdem impunemente duas eleições presidenciais consecutivas. E o acerto interno só se completou em agosto, no Encontro Nacional."
"O fato de as contradições terem surgido na própria base do governo é que deu a idéia de que não há oposição", acrescenta Dirceu.
Onde petistas e governistas coincidem é na avaliação de que as crises do fim do ano (Sivam, pasta rosa, Banco Central x PFL) foram apenas movimentos palacianos, sem maior repercussão na base da sociedade.
É, por exemplo, a visão do governador tucano Tasso Jereissati (CE). Ele acha que todos esses episódios repercutiram apenas na "opinião pública entre aspas dos palácios". É tese idêntica à do historiador Marco Aurélio Garcia.
Garcia diz, ainda, que qualquer comparação com o vigoroso comportamento da oposição quando se instalou a crise no governo Collor é totalmente improcedente.
Primeiro, pelas diferenças entre Collor e Fernando Henrique. Segundo, porque o início da crise "já pegou o governo Collor com um desgaste considerável".
No caso do governo FHC, "não há uma vulnerabilidade tão grande que permita a oposição aprofundar as feridas". Em todo o caso, Dirceu contabiliza algumas ações no ativo oposicionista, entre elas a recolocação da questão agrária na agenda. Credita, ainda, papel relevante na crise do Sivam ao senador Eduardo Suplicy e ao deputado Arlindo Chinaglia, ambos do PT paulista.
Chinaglia, por ter sido o autor das primeiras denúncias, retomadas após o episódio do "grampo" nos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos.
Suplicy, por ter, segundo Dirceu, dominado o debate no depoimento do ministro da Aeronáutica, Lélio Lôbo, sobre o Sivam.
A partir desses créditos e dos ensaios de rearticulação, tanto no âmbito partidário como no social, Dirceu aposta: "No primeiro semestre de 96, a presença da oposição será determinante".
(CR)

Texto Anterior: FHC cumpriu metas em educação, saúde e cultura
Próximo Texto: Reformas se arrastam e ampliam déficit
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.