São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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BC só para enfeitar?

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A Folha publicou, no último domingo, na página 1-8, estarrecedora matéria de Josias de Souza, da Sucursal de Brasília.
Tendo tido acesso a relatórios internos secretos do BC, Josias revela que o BC foi omisso, conivente e fez vistas grossas para crimes financeiros. Omissão perante um crime não é um crime também?
Por exemplo, documento de 1989 revela que (cito o texto de Josias) "havia na carteira de empréstimos do Econômico créditos que a fiscalização do BC considerou 'micados' (de difícil liquidação). O relatório afirmava que uma análise mais detida do balanço poderia conduzir à conclusão de que o patrimônio líquido do Econômico era negativo. (...) Em outro relatório sigiloso, redigido em 1990, a fiscalização do BC voltou à carga contra. Desta vez, recomendou à diretoria do BC que tratasse o banco com pulso firme". Os fiscais do BC sugeriram a abertura de processo administrativo contra o banco.
Pergunta: o que os senhores diretores do BC de 1989 e de 1990 estavam fazendo, que solenemente ignoraram o problema? Em 1992, reexaminando esses documentos, a diretoria do BC novamente nada fez.
Até que os fiscais do BC honraram seus salários: além dos relatórios de 1989 a 1992, em 1993 estimaram que o Econômico tinha um buraco patrimonial de Cr$ 3 bilhões.
Fez-se, então, um plano para salvar o banco. Calmon de Sá ficou responsável por recolher ao banco R$ 25 milhões por ano, durante dez anos. Isso foi feito em 1994 e 1995, mas os recursos não foram suficientes para tampar os rombos criados.
O grave da questão não é que o Econômico tenha "maquiado" balanços. O inaceitável é a passividade e a conivência de diretorias do BC ante relatórios tão contundentes.
O BC teve, no período recente, alguns presidente da mais alta honradez. Cito Affonso Celso Pastore, Ibrahim Eris e Pérsio Arida.
Mas esse episódio não pode ficar só na denúncia. O Congresso tem de abrir uma CPI para investigar o BC e as diversas denúncias de conluio de funcionários que, ao se aposentarem, ganham cargos de diretoria em bancos conhecidos.
Como diziam os portugueses: ou nos locupletamos todos, ou que se faça valer a lei!

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