São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Produtor vê fim da 'âncora verde' do Real

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi o pior ano para a agropecuária desde a crise do café de 1929. É assim que Roberto Rodrigues, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), define 1995.
Não foi um ano tão ruim assim, defende Amílcar Gramacho, chefe do departamento econômico da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). Mas as dificuldades permitem esperar um 1996 "um pouco diferente", diz.
Foi um ano de problemas. A começar pela perda de renda. Só nas culturas de grãos, ela é estimada em R$ 5 bilhões pelo economista Fernando Homem de Melo, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fipe.
Esse número corresponde a 10% PIB (Produto Interno Bruto) agrícola do país -a soma de toda a produção nacional.
Se forem somadas também as perdas de laranja, café, cana e pecuária, o número pode chegar a R$ 9 bilhões.
As perdas decorrem da diferença entre os preços praticados em 1994 e 1995. Não por acaso os alimentos foram considerados a "verdadeira âncora" do Real -a base que segurou o plano.
O melhor desempenho entre os alimentos pertence ao feijão. Mesmo assim, porque o produto enfrentou problemas de oferta e disparou nos últimos dois meses.
A queda da receita mais o endividamento dos produtores resultou num plantio menor da atual safra. As estimativas oficiais e do mercado apontam redução pequena da área plantada (de 2% a 9%), mas a diminuição do uso de insumos (como adubo e semente certificada) pode resultar em uma colheita pelo menos 15% menor.
As dívidas em atraso dos agricultores somam algo em torno de R$ 10 bilhões -cerca de 20% de tudo que o país produz no campo.
O governo prometeu resolver o problema da inadimplência com a securitização da dívida atrasada (transformação do débito em títulos federais). Os critérios serão definidos em janeiro. Rodrigues e outras lideranças rurais desconfiam que as medidas necessárias podem não sair. Gramacho tem esperança que sim.
Menos impostos
Rodrigues afirma que 1996 será o ano do menor estoque mundial de grãos desde a Segunda Guerra. Houve acentuada quebra na produção norte-americana, e os mercados asiáticos entraram comprando tudo que podiam.
Esse cenário, associado à queda da produção interna, vai resultar em aumento dos preços -podendo melhorar a renda do produtor.
O perigo é que o governo, por temer o aumento da inflação, resolva importar alimentos com subsídios, afirma Rodrigues. Ele sugere imediata redução dos impostos sobre os alimentos, de modo que os preços não precisem subir.
Para Gramacho, o essencial é a criação de linhas para investimento. "É preciso crescer, ter capacidade de competir. E isso não se faz sem juros adequados."

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