São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Batalha desigual

SÍLVIO LANCELLOTTI

Muito bem. Agora, esqueçamos as retrospectivas. Por um minuto que seja, raciocinemos sobre o futuro, que começa amanhã.
Em 1996, a cartolagem vai tomar uma decisão que pode mudar o perfil e até mesmo detonar a credibilidade do futebol no mundo.
Não, não se trata da situação da Lei do Passe, em questão depois que uma Corte européia criou jurisprudência em favor do livre trânsito dos jogadores do ex-Mercado Comum, independentemente das cotas impostas em cada país.
Tolice. Já observou João Havelange que uma decisão controvertida de um grupo de juízes de uma entidade composta por uma quinzena de nações não pode, claro, interferir na vida e nas regras de outras quase 200.
Só mudará, mesmo, a relação habitualmente escravagista entre clubes e atletas, algum acordo inteligente, e estável, entre os patrões e os seus empregados.
Qual seria o evento crucial, então? As eliminatórias da Copa-98? Tolice. Talvez em dezembro de 96 eu responda afirmativamente.
Sinceramente me preocupa o que ocorrerá entre amanhã, 1º de janeiro, e o dia 1º de junho, quando o Comitê Executivo da Fifa decidirá que país do Oriente organizará a Copa do Mundo de 2002 -a Coréia do Sul ou o Japão.
Trata-se de uma batalha desigualérrima. De um lado, o Japão, uma democracia plena, que demite e processa ministros corruptos. Do outro, a Coréia do Sul, de governo centralizador e autoritário, uma ditadura mal camuflada.
Ainda, de um lado, o Japão de futebol cada vez mais bem estruturado, exibido via TV ao universo inteirinho, com craques famosos de todos os continentes. Do outro, a Coréia do Sul de campeonato desinteressante e inexpressivo.
Sim, uma batalha desigualérrima -porque na política, no lobby e na pressão, pessoal e comercial, a Coréia do Sul está à frente do Japão. Enquanto que o Japão insiste em disputar 2002 na técnica e nos escrúpulos, a Coréia do Sul luta para convencer seus eleitores de formas não convencionais.
Por exemplo, se considera digna de abrigar Copa apenas porque disputou as fases decisivas dos três últimos torneios.
Tal tradição aparente somente tempera um jogo de favores e de regalos que o mundo de hoje não admite mais aceitar. Se a Coréia do Sul conquistar o direito de montar a Copa de 2002, a credibilidade da cartolagem do planeta desabará no fundo dos últimos poços, infelizmente, amém.

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