São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Índice

País deve fazer reforma

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

O sucesso da reincorporação de Hong Kong à China dependerá da capacidade do governo chinês de promover reformas políticas.
É o que pensa o professor de relações internacionais Michael B. Yahuda, 55, da Escola de Economia de Londres, um dos mais respeitados especialistas em China no Reino Unido.
Em entrevista à Folha, Yahuda avaliou as consequências políticas da devolução de Hong Kong e desenhou alguns cenários possíveis após a entrega.
(OD)

Folha - Quais as chances da incorporação de Hong Kong ser bem sucedida?
Michael Yahuda - O sucesso dependerá da capacidade da China de implementar reformas políticas. Enormes mudanças econômicas têm ocorrido nos últimos 15 anos. Também têm havido mudanças sociais. Tenho certeza de que haverá mudanças políticas. A dúvida é se isso acontecerá gradual e pacificamente ou como resultado de tensão interna.
Se a mudança for gradual, Hong Kong poderá ser útil, ao levar certo nível de mudanças políticas para dentro da China. Já é possível ver grande influência de Hong Kong no país. O velho estilo "maoísta-stalinista" de centralização econômica ainda é representativo em Pequim e no norte do país, mas está perdendo influência para a orientação representada por Hong Kong, com ênfase para empresas de pequeno porte sensíveis ao mercado, adaptáveis e preocupadas em fazer dinheiro.
Também o estilo de vida está mudando, particularmente entre as gerações mais jovens, que preferem a cultura de Hong Kong em termos de música popular, roupas etc. Tudo isso tem implicações políticas dentro de um sistema comunista.
Folha -O governo terá de manter ou até reforçar as atuais barreiras entre Hong Kong e a China?
Yahuda - O governo deverá manter algumas barreiras econômicas entre Hong Kong e a província vizinha de Guangdong, porque daí tirará renda alfandegária.
As autoridades também tentarão manter barreiras para evitar que a relativa democracia de Hong Kong se espalhe para todo o país.
Folha - O sr. acredita que o governo chinês fará concessões políticas?
Yahuda - Eles já começaram a conceder, embora não o digam. Se compararmos a vida nas cidades chinesas há 15 anos e agora, há enormes mudanças. No dia-a-dia, o povo tem mais liberdade.
Folha - O governo chinês conseguirá conviver com as liberdades de imprensa de Hong Kong?
Yahuda - As autoridades chinesas terão diversos instrumentos para limitar a liberdade de imprensa. Poderão fazer isso por meios indiretos como, por exemplo, advertindo empresas a não anunciarem em jornais críticos às suas políticas. Os próprios jornalistas poderão desenvolver uma autocensura agindo com cautela.
Mas Hong Kong é uma cidade internacional, universidades e profissionais têm acesso a informações atuais vindas de todas as partes do mundo. É muito difícil determinar o que é político e o que não é.
Além disso, haveria muita pressão internacional. A China terá de pagar altos custos se tiver mão pesada em relação a Hong Kong.
Folha -Que custos?
Yahuda - Se a economia chinesa enfrentar problemas, ficará mais difícil para o Partido Comunista se manter no poder. Além disso, se o modelo de Hong Kong funcionar, pode ser sugerido para a integração de Taiwan.

Texto Anterior: Magnatas fazem aliança com os comunistas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.