São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995 |
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Magnatas fazem aliança com os comunistas
JAIME SPITZCOVSKY
O Partido Comunista anunciou na semana passada a formação do Comitê Preparatório, "conselho de sábios" para garantir a transição que, dominado por empresários e comunistas, exclui o Partido Democrata, vencedor das eleições de setembro em Hong Kong. A opção reforça dúvidas quanto à disposição de Pequim de manter intacto o sistema democrático deixado pelos britânicos. Em 1984, a China do dirigente Deng Xiaoping e o Reino Unido da primeira-ministra Margaret Thatcher acertaram o calendário para o fim do colonialismo britânico em Hong Kong. Londres, depois de duras negociações, se rendeu a uma evidência tardia de seu colapso imperial. Para a China, a volta de Hong Kong representa um sopro de orgulho nacional, com a recuperação de um território perdido para os britânicos no século passado. O Partido Comunista chinês implementa reformas capitalistas desde 78, quando buscava salvar o país do colapso econômico. A estratégia de Deng transformou a China em dona da economia que cresce mais rapidamente no planeta. Em 1994, o crescimento econômico atingiu 11,8%. A injeção de capitalismo não muda a retórica do PC, nem abala seu regime de partido único. Os donos do poder em Pequim dizem implantar um "socialismo com características chinesas". A devolução de Hong Kong foi acertada sob o princípio "um país, dois sistemas". Ou seja, a ex-colônia britânica pode manter seu modo de vida inalterado pelo menos nos primeiros 50 anos depois do retorno ao controle de Pequim. A mão pesada do Partido Comunista já se sente em Hong Kong e levanta dúvidas sobre a manutenção da democracia modelada pela tradição política britânica. A nomeação do Comitê Preparatório agitou fantasmas do PC. Dirigentes comunistas e magnatas de Hong Kong coincidem nos interesses de manter a ex-colônia como importante centro financeiro e comercial. Pequim planeja usar a experiência e o capital da ex-colônia para aprofundar suas reformas. Hong Kong corresponde ao principal parceiro comercial e investidor da economia chinesa. E, resultado do novo e agressivo capitalismo chinês, a recíproca é verdadeira. Empresas da China já respondem por pelo menos 15% da vida econômica na colônia. Neste ano, os 20 homens mais ricos do território se reuniram para criar a Fundação Hong Kong Melhor, voltada para promover no exterior a imagem de estabilidade no pós-97. Magnatas como Li Ka-shing, o homem mais rico de Hong Kong, dominam o Comitê Preparatório. Cabe aos 150 integrantes do grupo indicado por Pequim decidir como será escolhido o primeiro governador da região e como será formado o primeiro Parlamento pós-97. Texto Anterior: País e território são dependentes Próximo Texto: País deve fazer reforma Índice |
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