São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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"Robin Williams quase me enlouqueceu"

Bruna Lombardi fala sobre a entrevista com o ator norte-americano, que a Bandeirantes exibirá em 96
Folha - A Globo a convidou para fazer a minissérie "O Fim do Mundo", de Dias Gomes, em 96. Você vai aceitar?
Bruna Lombardi - Não sei, ainda não decidi nada. Recebi convite da Globo, mas também de outras emissoras. A Manchete, por exemplo, me chamou. Quer que eu participe de uma novela. Acontece que este fim de ano foi uma correria e não deu tempo de olhar as sinopses, os textos.
Para fazer um trabalho, você tem que curtir o personagem, não é? Ter envolvimento... Então, não posso resolver nada antes de ler muito bem os textos. Só vou saber alguma coisa nas primeiras semanas de janeiro.
Às vezes, me pergunto por que demoro tanto para decidir. Por que rejeito as escolhas mais óbvias? Por que sempre opto pelos caminhos mais complicados?
Deve ser por causa da minha curiosidade, esse negócio de querer um certo desafio, de querer buscar outras praias. Já fiz tantas coisas alternativas na minha carreira... Até peça de teatro eu já escrevi.
Folha - Peça?
Bruna - Sim, escrevi duas comédias. A primeira, "Breakfast in Bed" (café na cama), montei no fim de 94 em Los Angeles. A outra, "Gloves" (luvas), encenei em 95, também nos Estados Unidos.
Folha - Você escreve em inglês?
Bruna - Em inglês. Só que não fico falando muito sobre isso, sobre minhas experiências com texto teatral, porque ainda estou começando, estou aprendendo.
Como disse, costumo desenvolver uns trabalhos meio alternativos. Gosto de caminhos paralelos, de criar. Adoro a confusão da criação.
Gosto de trabalhar no pequeno, fugir das grandes empreitadas. As coisas pequenas me dão possibilidade de correr riscos e de procurar o inédito.
Folha - A primeira peça, "Breakfast in Bed", fala sobre o quê?
Bruna - Sobre uma prostituta. Ou melhor, sobre uma "call girl", essas meninas que você chama pelo telefone. São apenas três personagens.
Quando montei a peça, trabalhei com uma dupla de atores americanos. Pensava que iríamos ficar em cartaz pouco tempo, uns dois fins-de-semana no máximo. Mas, para minha surpresa, o público gostou muito e levamos a peça durante dois meses.
A outra comédia, "Gloves", tem a ver com a loucura. Não dou mais detalhes porque talvez monte os textos no Brasil.
Folha - Quando?
Bruna - Não sei, me passou pela cabeça agora. Sou assim. Tenho sempre uns 500 projetos em mente. Não paro nunca. É legal, mas às vezes cansa. Dá vontade de largar tudo e passar um ano na Bahia. Virar meio índio, entende?
Folha - Recentemente, você entrevistou o ator Robin Williams em Los Angeles para o programa "Gente de Expressão". Como foi a conversa?
Bruna - Divertidíssima. A Bandeirantes deve exibi-la em breve. O Robin quase me enlouqueceu. Logo que chegou, foi dizendo oi, oi e, quando percebi, estávamos dançando.
O sujeito me tirou para dançar. Ele é completamente pirado. Mal o conhecia e já estávamos dançando. Aí eu pensei: "Onde isso vai acabar? Foi uma conversa alucinante. Ele pulava da cadeira, mexia no meu cabelo, sentava no meu colo.
Nunca vi ninguém tão elétrico. O Robin, sozinho, é muita gente, é um bloco, uma multidão. Tem múltiplas personalidades, e eu não dava conta de todas. Quando terminou a entrevista, estava exausta.
Folha - Ele contou alguma coisa nova, fez revelações?
Bruna - O comportamento dele já é tão surpreendente, já é tão alucinado, que nem me preocupei com declarações bombásticas.
O bacana das minhas entrevistas está justamente aí: não me preocupo com o factual. Procuro apenas deixar que a pessoa se mostre. Porque cada pessoa é única. É como impressão digital, não repete de jeito nenhum.
Folha - Você nunca tenta arrancar uma informação nova dos seus entrevistados?
Bruna - Não, não. Me interesso pouco por fatos, por datas. Minha memória não é impressionista. Minha observação das coisas é humanista. O fato, as datas sempre me cansaram.
Na escola, brilhava em redação, tirava dez. Mas, quando me davam um teste de história, não me lembrava de nenhuma data. Era um problemão. Pensava comigo: "Puxa, se eu soubesse uma data ia ser bacana". Mas não sabia. Não tenho olhos para o lado matemático da vida.
Folha - E o ator Michael Douglas? Você também o entrevistou recentemente.
Bruna - Conversamos em Los Angeles. É outra entrevista que a Bandeirantes deve exibir logo. Fiquei impressionada com ele. O Michael é muito ligado em poder, em dinheiro.
Há pessoas que curtem o lado poderoso da vida, não há? Que gostam do poder. Então... O Michael é assim. Transpira isso a todo momento, quando fala, quando gesticula, quando cruza as pernas. Parece que ele se preocupa em causar impacto.

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