São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Mesmice dá a tônica da televisão em 95

MARIANA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

A TV brasileira refletiu a temperatura do país em 1995. Foi morna. O cidadão não votou, não torceu pelo Brasil na Copa e viveu uma economia sem inflação -e sem dinheiro. O telespectador assistiu programas pouco criativos e um boom de novelas água-com-açúcar.
Claro, houve exceções. "A Próxima Vítima", de Silvio de Abreu, exibida de março a novembro na Rede Globo, saiu da mesmice e sacudiu o horário nobre.
Outras emissoras voltaram a investir no segmento: Manchete, com "Tocaia Grande", e Bandeirantes, com "A Idade da Loba". Fizeram barulho, mas não conseguiram emplacar audiência.
O SBT, apesar de ter firmado seu Núcleo de Teledramaturgia em São Paulo, não emocionou com o remake da trama de época "Sangue do Meu Sangue". Sem falar nos dramas latinos de "Carrossel" -que voltou à emissora paulista em dois (!) horários- e "Além do Horizonte" (Manchete), que acabou junto com o ano. Felizmente.
Se perdeu nas novelas, a programação ganhou nas minisséries. "Decadência" e "Engraçadinha" agradaram o público, causaram polêmica e destacaram atores.
Na linha jovem, a TV não ganhou nada. A melhor opção continuou sendo o "Programa Livre". Adriane Galisteu até tentou, mas seu "Ponto G", exibido aos sábados na CNT/Gazeta, só trouxe imagens bonitas e entrevistas vazias. Talvez em 1996...
As madrugadas continuaram na mesma. Otávio Mesquita de um lado, Amaury Júnior de outro. No meio, chegou Luciano Huck e "Circulando" (CNT/Gazeta) -para muitos, uma bobagem maior do que o número de mauricinhos emergentes da cidade.
Mas a grande tacada do ano foi "A Comédia da Vida Privada" (Globo): virou a boa opção de todos os meses. Conquistou público e crítica -ganhou o Grande Prêmio da Crítica da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).

A POLÊMICA - "Decadência" estreou em setembro na Globo. Fez barulho ao colocar Edson Celulari no papel de pastor evangélico. As provocações entre Record e Globo se acirraram.

O FRACASSO - Marília Gabriela trocou de emissora no começo do ano. Deixou a Bandeirantes e foi contratada a peso de ouro pela CNT (cerca de R$ 1 milhão por ano), mas seu "talk show" não emplacou.

A SÉRIE - "Arquivo X", exibida aos sábados pela Record, virou cult com suas histórias de mistérios do além.

A NOVIDADE - O desenho interativo "Hugo", da CNT, com um duende como estrela, foi o toque de modernidade.

A UNANIMIDADE - A "Comédia da Vida Privada" se transformou na melhor opção da TV. Com adaptações de textos de Luis Fernando Veríssimo e hilárias interpretações (como as de Marco Nanini e Fernanda Torres) de temas do cotidiano, fez a classe média rir de si própria.

O SUCESSO - "Engraçadinha" levou a perversão da obra homônima de Nelson Rodrigues para o horário nobre da Globo. Em produção cinematográfica, mostrou incesto, mutilação sexual e lesbianismo.

A BOBAGEM - Adriane Galisteu lançou "Ponto G" (aos sábados, na CNT/Gazeta). Seu namorado, Júlio Lopes, estreou "Astros e Estrelas em rede nacional, na mesma emissora.

O JORNALISMO - "SBT Repórter", comandado por Mônica Teixeira, fez as pazes da TV com as grandes reportagens.

O ZERO À ESQUERDA - As novelas "Sangue do Meu Sangue" e "Idade da Loba" não são horríveis, mas estiveram longe de empolgar.

A SACADA - "A Próxima Vítima" levou a trama policial para a novela e saiu do dramalhão. Tratou ainda de preconceito racial e homossexualismo sem ser chata e moralista. O público aprovou.

A XAROPADA - "História de Amor", da Globo, mostrou uma infinidade de problemas, como paralisia e alcoolismo.

O CASAL - O mecânico Raí (Marcelo Novaes) e a cabeleireira Babalu (Letícia Spiller) protagonizaram o romance de maior torcida de "Quatro Por Quatro", que revelou a ex-paquita como atriz. Acabada a novela, Novaes e Letícia largaram mulher e namorado e assumiram o amor na vida real também.

A EXPLOSÃO - Alessandra Negrini estreou na TV como a provocante Engraçadinha jovem. Caiu nas graças do público e da crítica. Logo em seguida, virou a indecisa e insossa Natália de "Cara & Coroa.

A CRISE - A TV Cultura enfrentou um corte de 39% em seu orçamento e demitiu mais de 250 funcionários. Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta, contorna a crise com patrocínios.

A DÚVIDA - A Manchete aposta em "Tocaia Grande". O início foi um fracasso. Walter Avancini assumiu a direção.

O FLASH BACK - A bela série "Sítio do Pica-Pau-Amarelo", adaptado de Benedito Ruy Barbosa para a obra de Monteiro Lobato -exibida na Globo entre 77 e 84-, foi ressuscitada pela TV Cultura.

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