São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995 |
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"Velho" Congresso é casa de desesperados
CYNARA MENEZES
Nos corredores, pilhas de papel se acumulam diante dos gabinetes de quem não vai voltar. Alguns, como o deputado Jesus Tajra (PFL-PI), pedem para os funcionários que rasguem tudo. Muitos quilos mais magro, o ex-quase vice de Luiz Inácio Lula da Silva, José Paulo Bisol (PSB-RS), já tinha, na sexta-feira passada, empilhado todos os papéis que conseguiu acumular em oito anos no Senado. Quem olha o Bisol sem mandato de hoje tem a impressão de que alguma chama se apagou dentro dele. Aquele que uma vez foi definido como "a paixão com braços" não gesticula nem sorri. Decepcionado com a política depois do caso da emenda superfaturada que assinou, pensa em escrever um livro sobre o poder da mídia, e está convencido de que todo o episódio foi uma "trama" urdida para derrubá-lo. Também derrotado na campanha para o governo do Pará, o senador Jarbas Passarinho (PPR) deixa a vida pública após três mandatos, mas não pretende deixar de frequentar a Casa. Semana passada, ao encontrar no corredor o primeiro-secretário Júlio Campos (PFL-MT), não resistiu em lhe pedir o broche de parlamentar, que dá acesso às dependências do Congresso, mesmo aos não-reeleitos. Já o senador Áureo Mello (PRN-AM) sonha alto. Ao lado da pilha de livros de poesia que publicou como parlamentar na gráfica oficial, às custas do contribuinte, dispara: "Quero ser adido cultural. Estive nos Estados Unidos agora, e tomei gosto pelo exterior. Se alguém me convidar, eu aceito". Foi a primeira viagem a outro país feita pelo senador, que tem medo de avião. "Fui a Nova York e Connecticut", conta. A pronúncia, imperdível, faz a dentadura balançar. "Esse negócio de inglês quando começa a enrolar não dá para entender nada", diz o poeta "monoglota". O deputado Maurílio Ferreira Lima (PSDB-PE), derrotado na disputa para o Senado, pretende continuar em Brasília, provavelmente com um cargo no governo. Ferreira Lima pode ser a primeira vítima da tristeza que toma conta dos não-reeleitos: amigos do deputado atribuem à falta de rumo ocasionada pela perda do mandato o infarto sofrido por ele este mês. Aos 54 anos, o deputado não fuma, bebe pouco e faz caminhadas regulares. Estaria, portanto, fora do grupo propenso a problemas cardíacos. O afastamento da política teria, porém, originado uma depressão e daí, o enfarte. Texto Anterior: Candidato à Câmara distribui 'kit-bebida' Próximo Texto: Para 47%, Congresso novo é igual ao velho Índice |
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