São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Gabinete de FHC será galeria de arte

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso, 63, pretende fazer de seu gabinete uma galeria rotativa de quadros e esculturas. Aproveitará o acervo da Presidência da República e convidará jovens artistas plásticos a cederem trabalhos para o terceiro andar do Palácio do Planalto.
Há nisso pelo menos duas dimensões. Em termos de marketing pessoal, FHC reforçará a imagem de um não jejuno em artes plásticas. E, em termos de mercado, é inevitável que se valorizem as assinaturas dos artistas escolhidos.
A idéia é permitir que, a cada seis meses, uma parte do acervo em exposição seja substituída por novas peças.
O presidente determinou que se faça um levantamento das obras tombadas no patrimônio do Planalto para que, dentro de um mês, o projeto de galeria rotativa já esteja colocado em prática.
O embaixador Julio Cesar Gomes dos Santos, chefe do Cerimonial, foi encarregado de recensear o acervo. A tarefa começa esta semana, e para ela foram destacadas uma diplomata e uma consultora em história da pintura brasileira.
Predominam peças das décadas de 40 a 60. Assim, o Planalto estará expondo uma combinação dos estertores do modernismo com o início das escolas abstratas.
Mas, como não se trata apenas de desempoeirar tendências menos contemporâneas, correrá paralelamente o projeto dos jovens artistas plásticos.
A informação foi dada pela assessora Ana Tavares. Esse segundo critério para a formação de uma galeria rotativa está em fase embrionária. Não foi ainda montado nenhum dispositivo para selecionar os autores e suas obras.
O Planalto não é um museu da República. Há um projeto para abri-lo à visitação nas tardes de sexta-feira para grupos previamente inscritos. Não será em razão desse público, no entanto, que os objetos ganharão visibilidade.
Eles entrarão em evidência de maneira indireta, por meio da mídia —fotos e imagens de TV— que cobre a rotina da Presidência.
Enquanto isso não ocorre, FHC convive com as peças que decoravam os ambientes do gabinete no tempo de seus antecessores.
Com uma única exceção. O óleo de 1969 de Manabu Mabe, 70, com predominância da cor amarela, pendurado atrás de sua escrivaninha, será substituído ainda esta semana por outro Mabe mais recente, em acrílico e com predominância de vermelho e preto.
FHC deu à troca uma motivação sentimental. Argumenta que até maio do ano passado o quadro que terá às costas decorava seu gabinete no Ministério da Fazenda.
Na sala do presidente permanecem, por enquanto, um abstrato de 1960 de Arcangello Ianelli, 73, uma tela marinha de 1978 de Scliar e uma escultura, em bronze, de Bruno Giorgi (1905-1973).
Na sala de audiências, há dois painéis de Djanira (1914-1979) e um de Di Cavalcanti (1897-1976).
Nas paredes das salas vizinhas há também peças valiosas: um Volpi com fundo azul e bandeiras brancas e negras, quatro gravuras do diplomata Sérgio Telles, uma natureza morta de 1979 de Scliar e uma paisagem marinha de Jorge Grimm (1846-1887).
No mezzanino do palácio, FHC dispõe por enquanto de um Djanira com cinco personagens de candomblé.
As peças que estão armazenadas já foram objeto de inventários nos governos Sarney e Collor. Um novo recenseamento é de praxe, mesmo porque não há uma documentação atualizada sobre quadros, esculturas e tapetes emprestados para outros órgãos do governo.

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