São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Cinemateca exibe hoje obra rara de Fritz Lang

'Corações em Luta' passa na mostra 'Remexendo o Baú'

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois filmes excepcionais —um, muito conhecido; o outro, uma raridade— são os destaques de hoje da mostra "Remexendo o Baú - Tesouros da Cinemateca", que vai até 10 de fevereiro na Sala Cinemateca, em Pinheiros.
"Corações em Luta" (1920), a raridade, é o primeiro grande filme de Fritz Lang, realizado pouco antes de "A Morte Cansada" e "Doutor Mabuse, o Jogador".
"Crepúsculo dos Deuses" (1950), por sua vez, é a obra máxima de Billy Wilder e talvez o maior filme já realizado sobre Hollywood.
"Corações em Luta", filme dado como perdido até 1986, quando foi encontrado por acaso nos depósitos da Cinemateca Brasileira, filia-se à vertente mais "realista" (com todas as aspas possíveis) de Lang, que inclui a série dos "Doutor Mabuse", "Spione", "M" e as obras realizadas na América.
Contrapõe-se, portanto, à vertente fantástica, que engloba títulos como "A Morte Cansada", "Os Nibelungos", "A Mulher na Lua" e "Metropolis".
A trama de "Corações em Luta" poderia gerar uma descabelada comédia de erros, se este fosse o temperamento do cineasta alemão. Acabou virando um intrincado melodrama romântico-policial.
O rico falsário Yquem (Ludwig Hartau) desconfia da fidelidade de sua bela mulher, Florence (Carola Trõlle), que teve um grande amor, Werner Raff (Anton Edthofer), antes do casamento.
Depois de anos pelo mundo afora como marinheiro, Werner retorna à Alemanha. Ao mesmo tempo, Yquem toma o irmão gêmeo de Werner, o ladrão de jóias William Raff, por amante de sua mulher. Marca um encontro entre os dois na mansão dos Yquem, para tentar um flagrante.
O verdadeiro amante e mais um outro pretendente de Florence aparecem na mesma hora na mansão, com a polícia e uma quadrilha de ladrões que quer acertar contas com Yquem (que lhes passou marcos falsos).
Lang (e sua mulher, Thea Von Harbou, sua co-roteirista) constrói esse "imbroglio" com precisão de relojoeiro.
O filme é também um mostruário de temas a que o cineasta retornaria com frequência em sua obra: o falso, o duplo, a pureza contra a corrupção, o submundo do crime como um universo autônomo.
Quanto a "Crepúsculo dos Deuses", só cabe dizer que é uma espécie de melodrama gótico e macabro sobre a decadência de uma estrela, Norma Desmond (Gloria Swanson), atropelada pelo cinema sonoro e pela modernidade.
Consta que, ao ver o filme, Louis B. Mayer, chefão da MGM, disse a Wilder: "Você destruiu a indústria que o alimentou". O diretor respondeu: "Fuck you".

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