São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995 |
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Equador anuncia cessar-fogo
FERNANDO CANZIAN
O anúncio foi feito às 11h30 pelo presidente da sacada do Palácio Carandolet, sede do governo em Quito, a centenas de pessoas que se concentravam no local. O governo do Peru não informou se acataria a suspensão dos combates na fronteira com o Equador, onde os dois países lutam por áreas próximas à cabeceira do rio Cenepa, na cordilheira do Condor. "O única coisa que resta ao Peru é fixar a hora da reunião entre os ministros da Defesa dos dois países", disse ontem Durán-Ballén. O presidente afirma que o Equador "pode sentar para negociar com a cabeça erguida porque mantivemos a nossa dignidade". O Equador anunciou que Estados Unidos, Brasil, Argentina e Chile enviarão imediatamente uma equipe de observadores para a região dos conflitos. Até às 19h de ontem, o Equador continuava a esperar uma resposta peruana para permitir que seu vice-chanceler participasse da reunião de negociações no Rio de Janeiro (leia na página seguinte). Ontem pela manhã, informações extra-oficiais davam conta de um ataque aéreo e terrestre peruano a cerca de 40 km da cidade de Patuca, onde fica o Comando Bélico de Operações do Equador na selva. Por volta das 10h30 locais, a Folha e outros meios de comunicação viram dois soldados equatorianos chegaram à base Patuca em uma ambulância com ferimentos nos braços e pernas. Um deles estava ferido na cabeça. Havia intensa movimentação de helicópteros equipados com lançadores de mísseis, aviões, caminhões e veículos leves na base. Dois dias atrás, um caça peruano foi perseguido por um equatoriano sobre a base de Patuca. O Peru informou ontem ter recuperado vários postos militares fronteiriços, que teriam sido invadidos pelo Equador. Ataques A correspondente da principal emissora de rádio peruana (Radio Programa de Peru) informou que o Exército de seu país havia ganhado terreno após violentos combates na madrugada de ontem. Outros órgãos de imprensa peruanos noticiaram ataques na madrugada. O Peru informou ter feito nove prisioneiros equatorianos. A informação não foi confirmada pelo lado adversário. O Peru noticiou ainda que, além do helicóptero abatido pelo Equador no domingo, há um outro desaparecido. O governo equatoriano já havia informado sobre a derrubada de duas aeronaves. Apesar do cessar-fogo anunciado pelo Equador, continuam a chegar tropas peruanas à região do conflito. As autoridades equatorianas não divulgaram informes de combates após o anúncio do cessar-fogo. A região dos conflitos de ontem fica próxima à cabeceira do rio Cenepa, uma área umbilicada em uma ampla ramificação da cordilheira do Condor, perto da fronteira entre Equador e Peru. Os dois países estão evacuando as populações civis desta região. Segundo as forças equatorianas, o país continua controlando as áreas atacadas pelos peruanos. O Comando Bélico de Operações de Patuca é uma vila militar que ocupa antigas instalações usadas pela construtora brasileira Andrade Gutierrez. A empresa construiu entre 1988 e 1989 uma estrada de 120 km, ligando as cidades vizinhas de Morana e Mendes. Algumas das indicações nos edifícios da base, como em portas de banheiro, estão escritas em português. O Comando Bélico equatoriano não informa, "por motivos de segurança", o tamanho do efetivo militar em Patuca. É desta base que parte o grosso dos equipamentos, soldados e provisões para os militares que estão lutando contra o Peru na selva desde a última quinta-feira. A base é abastecida desde o aeroporto de Macas, a 80 km ao norte, que tem capacidade para receber aviões maiores, que vêm de Quito e Guayaquil, a segunda maior cidade do Equador. É na base militar de Patuca que estão concentrados também os militares da tropa de elite do Exército de Selva do Equador, o Batalhão Iwias (Diabos da Selva). Esta unidade é formada inteiramente por índios Jibaros. Eles são famosos na Amazônia pelo costume de encolher a cabeça de seus inimigos, extraindo os ossos do crânio e enchendo o seu interior com pedras e sementes. São os Jibaros que oferecem a maior parte do treinamento militar na selva para recrutas do Exército do Equador. Eles têm permissão para manter seus cabelos compridos e usar armas próprias, como um tubo de madeira para lançar dardos envenenados. Próximo Texto: Crise estimulou Quito, diz jornal Índice |
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