São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Brutal desgaste

Trata-se definitivamente de um lamentável recorde. Com apenas um mês de governo, o presidente Fernando Henrique Cardoso viu sua popularidade cair quase à metade em relação à expectativa de antes da posse; a avaliação negativa triplicou. Os números da pesquisa Datafolha publicada hoje são realmente impressionantes.
É natural que entre a expectativa, ou seja, o que se deseja de um governo, e a avaliação de fato haja uma certa distância, mas a queda dos ótimo e bom e a elevação dos ruim e péssimo dados à gestão FHC são fortes demais para explicar o fenômeno detectado na pesquisa.
É curioso notar que o apoio da população ao Real continua sólido (75%), mas esse apoio não se traduz em popularidade para o governo, pelo menos não no mesmo grau em que ocorria antes do início da gestão. É como se o real fosse uma conquista do passado à qual não se seguiram novas realizações.
De qualquer forma o desgaste do governo parece ter mais fundo político do que econômico. Mesmo o fato de a administração ter conseguido reduzir ainda mais o nível de inflação —que vem baixando semanalmente— não foi capaz de evitar a reversão nas expectativas.
É inegável que o governo sofreu diversos arranhões na esfera política. Em primeiro lugar, houve o generoso aumento salarial concedido ao presidente, vice, ministros e parlamentares ao mesmo tempo em que o Planalto anunciava que iria vetar o mínimo de R$ 100.
A anunciada disposição do presidente de não vetar a vergonhosa anistia aos políticos que fizeram uso indevido da gráfica do Senado certamente também contribuiu para o desgaste. FHC havia prometido revolucionar os costumes políticos nacionais. Na primeira oportunidade que teve para mostrar a que veio, terminou recuando, temendo perder o apoio do Congresso para as emendas à Constituição.
O vertiginoso desgaste da imagem do governo e a brutal diminuição do fôlego da âncora cambial brasileira devido à crise mexicana tornam urgente uma ação firme e decidida do Planalto. Agora, com o novo Congresso já empossado, não há razão para protelações.

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