São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Nada será como antes

O anúncio do presidente dos EUA, Bill Clinton, de que seu país e a comunidade financeira internacional concederão empréstimos de socorro ao México afasta a perspectiva de uma moratória e alivia os mercados de todo o mundo. Dissipou-se a possibilidade de um violento agravamento da crise atual.
O auxílio ao México é sem dúvida uma notícia tranquilizadora. Mas não significa que os fluxos financeiros para a América Latina voltarão aos níveis anteriores à desvalorização do peso. Assim, nada permite supor que será possível ao Brasil manter a política de cobrir o crescimento das importações com a entrada de recursos financeiros. É preciso assegurar a obtenção de um superávit comercial. Os ajustes no Real continuam necessários.
Com a ajuda internacional, os que tinham feito empréstimos em dólar ao México poderão reavê-los. Já os que tinham ativos na moeda mexicana, continuam hoje com perdas de cerca de 40%, já que não se espera que o peso possa voltar à sua cotação anterior. Uns quase perderam tudo, outros ainda amargam prejuízos. É certo que não afluirão recursos no ritmo anterior.
Por mais que as situações do México e do Brasil sejam diferentes, é inevitável o impacto da crise mexicana sobre o volume de recursos que se esperava viessem para o Brasil. O país precisa estar preparado para conduzir o Plano Real num ambiente internacional adverso.
O auxílio sem precedentes anunciado por Bill Clinton não elimina a lição deixada pela crise. A deterioração das contas externas tem um limite; as aplicações financeiras de investidores internacionais são uma base demasiadamente frágil para nela assentar a estabilização da economia. Ao menor sinal de perigo, o chamado "hot money" sai do país levando assim boa parte das reservas em moeda estrangeira.
Com o anúncio do empréstimo ao México, o céu está menos carregado na América Latina. Mas se uma grande tempestade dissipou-se, o clima tampouco voltou a ser como antes. É prudente que cada um tenha seu próprio guarda-chuva.

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