São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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FHC desiste de usar reservas para investir

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo desistiu de usar parte das reservas cambiais em investimento, promessa feita durante a campanha pelo então candidato Fernando Henrique Cardoso.'
A mudança de plano reduzirá em 20% o total de investimentos em programas de infra-estrutura, previsto em R$ 100 bilhões para os próximos quatro anos.
O programa de governo de FHC, divulgado durante a campanha eleitoral, anunciou que uma parcela de R$ 20 bilhões das reservas internacionais seria usada para financiar os investimentos.
Esta seria uma das alternativas à falta de recursos do orçamento. Hoje, o país tem US$ 38 bilhões de reservas.
A proposta de usar parte das reservas cambiais em investimentos foi vetada pela equipe econômica.
A promessa de campanha ruiu no início da semana, quando o uso das reservas para financiar investimentos de infra-estrutura foi descartado discretamente pelo porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, ao explicar a disposição do governo de emprestar US$ 300 milhões ao México.
Amaral, ao rebater críticas de parlamentares, disse que o uso de recursos das reservas em investimento interno é uma opção descartada pelo governo, porque gera inflação.
O governo teria de transformar os dólares em reais, aumentando o dinheiro em circulação no país. Isto, segundo os economistas, faz o consumo crescer e os preços acabam subindo junto.
A versão do Palácio do Planalto batia de frente nas promessas de campanha. Mas já contava com o apoio integral da equipe econômica, que sempre se opôs ao uso das reservas defendido por Fernando Henrique no livro "Mãos à obra", seu programa de governo.
A Folha apurou que a meta de investir R$ 100 bilhões em projetos de transportes, energia e telecomunicações, definida na campanha, é considerada um cálculo preliminar superestimado. Não há previsão oficial de quanto o governo Fernando Henrique poderá investir.
Durante da campanha, os números foram classificados de "realistas" pelo coordenador do programa de governo e atual ministro da Educação, Paulo Renato Souza.
Com doutorado em economia e passagem pela gerência de operações do Bando Interamericano de Desenvolvimento (BID), Paulo Renato foi o autor da proposta, encampada por Fernando Henrique, de criar com parte das reservas um Fundo de Financiamento do Desenvolvimento.
O fundo, segundo o programa de governo, serviria para financiar importações de bens e serviços.'
Otimismo
Quando se anunciou a meta de investir R$ 100 bilhões em infra-estrutura, a equipe de FHC transpirava otimismo, e a economia mexicana ainda não tinha entrado em colapso.
Segundo cálculos então feitos por Paulo Renato Souza, coordenador do programa de governo de FHC, as reservas, que se calculavam US$ 40 bilhões em setembro do ano passado, poderiam chegar a US$ 50 bilhões no governo FHC.
Avaliava-se, então, que algo em torno de R$ 20 bilhões (ou US$ 20 bilhões, já que se operava com a estimativa da paridade entre dólar e real) poderiam ser usados em infra-estrutura e que os US$ 30 bilhões restantes seriam suficientes para pagamento da dívida e manutenção do mercado financeiro.
A equipe de FHC afirmou que buscaria uma fórmula de o uso das reservas não provocar a inundação do mercado de reais, o que provocaria inflação. Pelo visto, a equipe não conseguiu achar essa fórmula, e as reservas, desde então, estão declinantes.

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