São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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Organizador diz que curta está revitalizado

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CLERMONT-FERRAND


Antoine Lopez, um dos fundadores do Festival do Curta-Metragem de Clermont-Ferrand (França), foi um dos coordenadores da mostra "Um Século em Curtas", que domina o evento neste ano.
Lopez falou à Folha sobre os critérios da seleção de títulos, sobre as dificuldades da reunião de cópias e também sobre os esquecidos pelo ciclo.

Folha - Quais os critérios para a seleção dos cem curtas?
Antoine Lopez - Em primeiro lugar, consultamos arquivos de cinema distribuídos pelo mundo. A seguir, enviamos cerca de 200 questionários a críticos, historiadores e programadores, perguntando sobre os dez melhores curtas de seus países e os dez melhores curtas da história internacional. Recebemos as respostas e chegamos a uma lista básica de 30 títulos.
Filmes como "Noite e Neblina" (1955), de Alain Resnais, "Um Cão Andaluz" (1929), de Buñuel e Dali, e "A Chuva" (1929), de Joris Ivens, apareceram sempre. Notamos que há um conhecimento bastante limitado sobre a história do curta. Combinamos isso tudo com nossa experiência de 25 anos trabalhando internacionalmente com o gênero. Tentamos manter um equilíbrio geográfico e temporal, com um número médio igual de curtas para cada período de 15 anos.
Folha - Mas há períodos, como os anos 60 e 80, que prevalecem.
Lopez - Apesar de tudo. Os anos 60 foram uma época de mudanças, de reivindicações que contaminaram o cinema. Já nos anos 80, nos quais nosso trabalho está mergulhado, houve uma revitalização do curta. Mas é difícil julgar, pois ainda nos falta o distanciamento.
Folha - Qual foi a linha afinal estabelecida para os programas?
Lopez - Dividimos a programação entre uma política dos autores e uma política de descobertas. Apostamos por exemplo no escuro no curta de Hitchcock, "Boa Viagem" (Bon Voyage). Ele foi selecionado sem que nós o víssemos, pois era, primeiro, um raro curta dele, segundo, um filme de propaganda, e terceiro, um curta rodado em Londres com atores franceses exilados durante a guerra.
O mesmo vale para o de John Ford ("A Revelação do Ano"), um mestre do longa que é um sucesso também no curta.
Folha - Quais cópias foram as mais difíceis de obter?
Lopez - Curiosamente, a de um filme francês, "Viagem à Lua" (Voyage Dans La Lune, 1902), de Méliès. A cópia veio dos EUA! A família de Méliès não nos cedeu a cópia deles. É uma família muito fechada sobre o patrimônio. Eles esperavam da França uma grande homenagem, que não aconteceu e, fechando-se assim, bloqueiam outros projetos.
Folha - Parece que a de "Nos Bastidores" (Backstage, 1919) também foi suada...
Lopez - É bom nem falar muito nisso. Conseguimos a cópia na Holanda e não nos EUA. Temos dúvidas sobre os direitos de exibição, que parece que estariam livres a partir de 1º de janeiro deste ano. Na dúvida, silêncio (risos).
Folha - Há algum filme que vocês não conseguiram?
Lopez - Sim. Só um filme. Há poucos representantes do cinema da África e do Oriente Médio. Queríamos muito exibir um curta israelense, "The Shelter", de 1978, mas não conseguimos que nos fizessem uma cópia. Tivemos que à última hora substituí-lo. No campo das intenções, mesmo sem tê-lo visto, eu pessoalmente adoraria ter trazido o curta de Robert Zemeckis que ganhou o Oscar de filme de escola. Infelizmente não obtivemos resposta.
Folha - Por fim, por que foram esquecidos, entre outros, Dziga Vertov, Walt Disney, Peter Greenaway e clássicos como "Entr'Acte" (1924), de René Clair, e "A Propos du Noe" (1930), de Jean Vigo?
Lopez - Estavam todos nas listas iniciais. Mas de Vertov não pudemos ver muitos filmes. Os filmes de Vigo e Clair ficaram de fora pois tentamos evitar uma excessiva presença francesa, mesmo sabendo que a França acabou sendo o país com a maior representação. Falta Disney, assim como David Fleischer.
Tentamos privilegiar a animação mais inventiva, como a recente de Tim Burton ("Vincent", 1982). Disney é visto no mundo todo e, além do mais, não é fácil obter cópias de seus filmes. A produção de curtas é excelente.

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