São Paulo, sexta-feira, 3 de fevereiro de 1995
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Crise política é novo empecilho ao pacote

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os Estados Unidos e demais países empenhados em socorrer o México têm medo de que os muitos bilhões de dólares sejam sugados por um sistema político autoritário e corrupto.
Esta a razão da promessa do presidente norte-americano Bill Clinton de que a aplicação da ajuda econômica será vigiada de perto.
Já a oposição mexicana à esquerda, liderada por Cuauhtemoc Cardenas, filho do general Cardenas, que nos anos 30 nacionalizou o petróleo, fala da necessidade de submeter a plebiscito a operação de socorro financeiro articulada pelos EUA e organismos internacionais.
A proposta de Cuauhtemoc surgiu diante de informações de que o México empenharia suas receitas petrolíferas como garantia de pagamento.
Tentando avançar nesse terreno minado, o presidente Ernesto Zedilho conseguiu que seu partido, o PRI, no poder desde 1929, assinasse com três outros um pacto cheio de promessas de trabalho conjunto visando a uma "verdadeira" reforma eleitoral.
Também foram signatários os partidos da Revolução Democrática, de Cuauhtemoc, da Ação Nacional, conservador, e o do Trabalho, o menor, mas com boa base operária.
Quase simultaneamente, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) prorrogou "indefinidamente" a trégua em Chiapas, para facilitar as negociações.
Mas em seu primeiro teste, a possível anulação das eleições em Chiapas e Tabasco, onde a oposição instalou governos provinciais paralelos alegando fraudes, o pacto naufragou, com os "duros" do PRI agindo violentamente nas ruas contra opositores, no velho estilo.
Os zapatistas, acusados de aproveitarem a trégua para melhorar posições, armar 15 mil homens e programar ataques a torres de energia e instalações petrolíferas, pediram a criação de "movimento de libertação nacional" sob a chefia de Cuauhtemoc.
Um "movimento independente proletário" botou 30 mil nas ruas da capital mexicana em protesto contra cortes salariais do pacote anticrise.
Até a Confederação dos Trabalhadores do México, braço sindical do PRI, se insurge contra o novo esforço de "estabilização", pedindo 56% de aumento salarial.
O explosivo quadro social do México foi tema de reunião no Banco Mundial com organizações não-governamentais.

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