São Paulo, sexta-feira, 3 de fevereiro de 1995
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Leia trechos da carta do apresentador à Censura

DA REPORTAGEM LOCAL

"(...) Já há um ano, a Censura de São Paulo vem tratando os meus dois programas de TV, "Buzina e Discoteca do Chacrinha", com arbitrariedades censórias para as quais não encontro explicações razoáveis. Essas arbitrariedades começaram de certa feita quando um censor paulista ligou para os estúdios reclamando das roupas das chacretes e de algumas tomadas de detalhes anatômicos.
Por não ter sido bem identificado ao telefone, a pessoa da TV que o atendeu não acreditou que fosse uma autoridade da Censura e desligou o aparelho.
Eis o primeiro absurdo: a censura exercitada por meio de um simples telefone, com o programa no ar (...).
Na semana seguinte, o mesmo censor apareceu nos estúdios faltando três minutos para o começo do programa e determinou que as moças trocassem de roupa. (...)
Há cerca de um mês atrás, a produção do meu programa foi chamada pela Censura, pelo fato de dar "takes" fechados das chacretes. Eu também fui repreendido aos gritos e pelo telefone pelo simples fato de ter pronunciado o refrão "Vocês querem mandioca?".
A partir daí, nada mais aconteceu até a última terça-feira, dia 1º de julho, porque nós obedecemos, com rigor, tudo o que havia sido draconiamente exigido. (...)
Neste já citado dia 1º, ocorreu o seguinte:
a) nos corredores da emissora, meia hora antes de começar o programa, uma senhora não identificada foi por mim solicitada a deixar o local, naquela altura exclusivamente destinado a artistas.
b) à minha solicitação, a referida senhora declarou que queria ver as roupas das chacretes (...).
c) nessa altura, um senhor, que estava ao lado da referida senhora, falou ser a mesma da Censura, fato que me recusei a levar em conta, seja pela não identificação da censora, seja pelo horário impróprio, seja pelo local inadequado.
d) ao terminar o programa, fui levado para o meu camarim, onde encontrei um delegado, dez federais e o chefe da censura, os quais me deram ordem de prisão. (...)
Em resumo: sofri como artista e como homem de bem a maior humilhação da minha vida. E por quê? Pelo simples fato de que uma censora federal não se identificou. É isso um fato abusivo, intolerável para qualquer sociedade civilizada. (...)"

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