São Paulo, sábado, 4 de fevereiro de 1995
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Equador teme novo ataque peruano

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PATUCA (EQUADOR)

As Forças Armadas do Equador retiraram ontem de Patuca, onde funciona o comando bélico de operações na selva, a maior parte dos helicópteros e aviões de combate temendo um maciço ataque aéreo do Peru.
Ao mesmo tempo, navios de guerra da Marinha peruana se concentraram diante do porto equatoriano de Guayaquil. As embarcações estão em águas internacionais, aparentemente aguardando uma escalada no conflito.
Os caças A-37 foram mandados a Macas, a 50 km, de onde partem a todo instante carregados de bombas para serem despejadas sobre as posições inimigas.
Os combates continuaram nos destacamentos de fronteira entre os dois países, com bombardeios esparsos, disparos morteiros e tiros de metralhadoras e fuzis.
A artilharia antiaérea foi reforçada em Patuca e os soldados cavaram túneis e abrigos antiaéreos em vários pontos da base para protegerem-se em caso de ataque.
Um avião Hércules descarregou dezenas de caixas com equipamentos e munição para artilharia.
Especula-se que o Peru estaria prestes a tentar um ataque audacioso ao principal ponto de operações do Equador na selva.
Isto porque teriam sido frustradas as várias tentativas de tomar os destacamentos equatorianos na fronteira entre os dois países, onde os soldados do Equador abandonaram as instalações e esconderam-se na floresta em volta.
Em Lima, o presidente do Peru, Alberto Fujimori, presidiu a uma renião do Conselho de Defesa Nacional, em Lima.
O governo não divulgou os assuntos discutidos na reunião, mas sabe-se que o presidnete peruano tinha uma cópia da proposta de paz acertada no Rio de Janeiro (leia texto abaixo).
Além disso, o conselho reúne os chefes militares encarregados das operações contra o Equador.
Segundo o diário equatoriano "Hoy", Fujimori é na verdade refém dos militares peruanos.
O presidente peruano está "limitado pelos militares, que estão cobrando a conta pelo apoio que deram à sua ditadura civil", disse o presidente do Congresso equatoriano, Heinz Moeller.
A cidade de Patuca é o centro das forças equatorianas que estão combatendo o Peru na selva.
Ela tem o último aeroporto antes da floresta e é onde está sendo concentrada toda a distribuição de armamentos e provisões para os soldados que estão na floresta.
Na cidade estão os maiores tanques de combustível que abastecem todos os helicópteros, jatos e veículos equatorianos que fazem incursões na floresta.
Ontem, todos estes equipamentos estavam sendo camuflados e cobertos com folhas.
O clima da base em Patuca, tranquilo nos últimos dias, tornou-se tenso e cresceu o envio de tropas para a zona de fronteira.
Ontem, a Folha registrou saindo do hospital uma pequena camionete com um caixão levando um soldado morto que pertencia a tribo dos jibaros, os índios que formam a tropa de elite do Exército.
Havia duas mulheres chorando na carroceria do caminhão debruçadas sobre o caixão.
O hospital em Patuca tem 12 leitos e 1 centro cirúrgico.
Alguns dos feridos nos combates — ontem chegaram dois com estilhaços de granadas — têm sido levados diretamente para as localidades de Macas ou Mendez.
Os militares tentavam organizar pela manhã visitas de grupos da imprensa aos destacamentos na floresta atacados pelos peruanos, em Condor Mirador, Soldado Monge e Tenente Ortiz.
Ao fechamento desta edição, a reportagem da Folha tentava chegar próximo a Condor Mirador.
Militares têm dado prioridade à imprensa internacional na divulgação das informações. A estratégia é chamar a atenção de outros países para o problema na fronteira.

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