São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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Ruth exibe sintonia com FHC

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA

A primeira-dama Ruth Cardoso exibe em sua viagem a Portugal discurso completamente afinado com a linha política do governo Fernando Henrique Cardoso.
Ontem, Ruth minimizou as dificuldades que o presidente enfrenta para obter apoio integral da própria base parlamentar às propostas de mudança na Constituição e mostrou-se confiante no sucesso do governo. "Eu acredito na razão e acredito que a racionalidade se imporá."
Apesar da sintonia com o discurso de FHC, Ruth afirmou que não tem "cumplicidade" com o marido na área política e que manifestará sua opinião sempre que suas posições divergirem.
Na primeira entrevista que concedeu, anteontem, Ruth defendeu as reformas constitucionais e o veto do presidente ao aumento do salário mínimo com os mesmos argumentos usados pelo governo.
Antropóloga, Ruth está em Portugal para participar de encontro da Comissão Independente sobre População e Qualidade de Vida.
Ontem, passou o dia reunida com a comissão. Logo depois do almoço, o grupo visitou o cabo da Roca, que é o ponto mais ocidental de Portugal.
Ruth afirmou que não vê problemas em conciliar a atuação profissional com a de primeira-dama.
Em sua opinião, está "fora de moda" o conflito entre diferentes papéis femininos. "É como o velho drama dos filmes da Metro dos anos 40: a carreira ou o meu amor?", exemplificou.
Mas admitiu que considera incômodas determinadas situações típicas de sua posição.
"Não poderia dizer que acho uma coisa natural ser seguida e observada o tempo todo", disse Ruth, que em Portugal está sempre com cinco seguranças e é acompanhada de perto pelos jornalistas.
Mesmo detestando o nome primeira-dama -"por causa do primeira e por causa do dama"- Ruth diz que cumprirá sem problema todos as atividades exigidas pela função. "Eu sou antropóloga, e ninguém acredita mais do que eu em rituais."
Normalmente arredia à imprensa, Ruth tem se mostrado receptiva em Portugal, sem deixar de recorrer à máxima que professa desde a campanha eleitoral: a separação entre o público e o privado.
Em sua opinião, em um regime republicano, todo o governante tem direito a uma vida privada.
Perguntada sobre sua definição de "esfera privada", Ruth deu um exemplo concreto: "Quando você viaja no mesmo avião que eu e me observa a noite inteira, acho que passa um pouco dos limites."
A afirmação se dirigia à repórter da Folha, que viajou a Portugal no mesmo vôo da primeira-dama.

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