São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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Teste mostra tendência hereditária ao infarto

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Obesidade, consumo voraz de colesterol e gorduras e o hábito de fumar desenham o perfil mais clássico e visível dos candidatos ao infarto. Mas as pessoas que não fazem parte desse grupo de risco podem ser vítimas do mesmo problema. Neste caso, a doença é provocada por um inimigo invisível a olho nu —uma variação de um gene—, agora detectável no Brasil por um teste que pode ser feito mesmo quando a criança ainda está na barriga da mãe.
Cerca de 35% dos infartos do grupo chamado de baixo risco (magros, colesterol baixo) estão relacionados a uma variação em um gene —a tendência ao ataque cardíaco neste caso é genética, herdada dos pais.
No final do ano passado, a Genomic Engenharia Molecular, uma empresa paulista especializada em testes genéticos de doenças e de pesquisa no setor, introduziu o exame no país. Cerca de 50 exames já foram feitos.
O resultado do teste, se positivo, não significa uma condenação ao infarto. Nem que o indivíduo está definitivamente livre de ter um problema no coração.
O exame detecta se há uma variante do gene que regula a produção da enzima conversora de angiotensina (ACE, na sigla em inglês). Nas pessoas do chamado grupo de baixo risco, a presença dessa variante significa que um indivíduo tem uma chance de infartar 3,2 vezes maior do que os demais do mesmo grupo.
Segundo um dos diretores da Genomic, Marcos Reinach, a empresa faz o teste apenas por recomendação de cardiologistas.
"O exame é apenas parte do acompanhamento médico. Não temos condições de dar orientação a uma pessoa que teve resultado positivo —ela pode achar que está condenada, o que não é verdade e pode ser perigoso. O teste é apenas um instrumento da medicina preventiva", explica Reinach.
O exame é simples —para quem se submete a ele. Custa R$ 150,00 e o resultado sai em dez dias. São coletados 5 ml de sangue, de onde é retirado o material genético (DNA). O DNA é então analisado por um aparelho que realiza uma complexa operação de "desmontagem", cópia e procura de genes (leia texto abaixo).
A enzima conversora de angiotensina, a ACE, está presente no sangue. Níveis altos de ACE estão relacionados à hipertensão e à insuficiência cardíaca. Cientistas franceses descobriram em 199O que um gene do cromossomo 17q influi no nível da ACE no organismo (veja quadro abaixo).
Esse gene pode ter três variantes: DD, ID, II. Pessoas com o tipo DD têm bastante ACE. As do tipo ID têm um nível médio e os II apresentam uma baixa concentração da substância no sangue.
Em 92 foi descoberto que o tipo de DD estava relacionado a um excesso de infartos, mas apenas nas pessoas do grupo de baixo risco.

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